Viagem ao centro do AMA
Se tem algo que é complicado para quem não tem dinheiro ou convênio é ficar doente. Bom, pra todo mundo é, mas para essa parte da população as coisas são um pouco piores, em breve saberá o porquê.
Quando se fica doente, milhares de preocupações vem a mente, emprego, perder aulas e provas na faculdade e acredite, sem dúvida nenhuma... ter que ir ao médico. Sim é pagar por todos os pecados, pois você terá que ir para o santuário dos doentes, o lendário "AMA".
Bom, nessa jornada a primeira coisa que você faz é angariar informações sobre qual da região tem médico, sim é muito comum você sair de sua cama com febre, dor no corpo, tossindo pra baralho e chegar num desses templos e descobrir que: " não tem clinico senhor". Ah... os médicos... jovens vindos da periferia que seguiram sua vocação, seu sonho e que chegaram lá, sempre pensando no bem estar da população. Não, espera, caí da cama, melhor voltar onde estava. Não se sabe o porquê deles faltarem pelo menos três vezes na semana, só se sabe que você todo ferrado terá que voltar pra casa, para tomar muito chá e dipirona(Deus salve seu inventor) e torcer pra melhorar. Mas caso tenha médico, chegamos ao próximo passo da nossa aventura ao centro do AMA.
Logo quando se chega a primeira coisa que você repara é que a torcida inteira do Corinthians resolveu ficar doente no mesmo dia que você. Se chegou às 7:00 da manhã será o número trezentos da fila, se chegou às 9:00 será os seiscentos e assim segue-se em progressão aritmética. Mas suas esperanças se renovam quando você lembra que tem o controle de risco, o local que avalia se um paciente está mais necessitado que o outro. É nessa hora que você torce para sua febre de 36° subir pra 39°, sua pressão subir ou abaixar, afinal é um preço que se paga para ser atendido em menos de três horas...
Mas suas esperanças se vão quando percebe que sua doença não é tão grave e você pensa; " Deus, tenho que passar por isso só por causa de um problema tão simples?". Sim e dê graças a Deus... Depois de três horas, finalmente é chamado, você comemora!! Mas depois percebe que você apenas foi para outra fila, agora esperando o grande momento em que o médico irá te chamar. Depois de mais uns 50 minutos, entra-se na sala do médico!
A consulta costuma ser épica, o médico te dá toda atenção do mundo, te ouve e te examina com muito cuidado para não te dar o diagnóstico errado... Droga! Cai da cama de novo, voltando... A consulta costuma durar dois minutos, você fala os sintomas, o médico anota e anota e adivinha... Você tem virose! Sim, meu caro amigo, você está morrendo, pode ter dor nas pernas, dor de barriga e esse é o diagnóstico mais provável. As vezes tem aquela frase: É senhor, está tendo um surto de virose esses dias... depois disso passamos para o próximo circulo do infer... a sala de medicação!
Como se desgraça fosse pouca, após umas cinco horas de canseira, acaba-se sendo obrigado a esperar mais. Lembra aqueles que estavam na tua frente quando chegou, quando foi esperar a chamada do médico? Eles continuam na sua frente, e a hora? Parece que passa mais lentamente só porque se está perto de ir embora...Mas finalmente chega o momento, encontra-se o Santo Graau que tanto procuraram nas cruzadas! Para alguns ele chama-se bezetacil, para outros soro na veia... Ah... a sensação do dipirona injetado percorrendo teu corpo, a primeira picada a gente não esquece(espera, não deveria ter dito isso), pena que normalmente a gente leva umas cinco até elas encontrarem a veia certa.
No fim a enfermeira despede-se de ti te desejando melhoras, você vai na sala dos remédios o último circulo( O Diabo não está lá) e finalmente está pronto para ir embora... Quando sai sente-se aquela sensação: "Em que mundo estou?" Afinal se passou tanto, tanto tempo lá dentro que as ruas, o mundo externo ao AMA parece uma país estranho, uma outra dimensão! Após tudo isso se pensa: "eu fico doente, eu morro, mas não volto nesse lugar!" Mas sabe como é, há um pouco de masoquismo em ficar bem, então a gente sempre volta... sempre e sempre.
RS Schindler(Renan Souza)