O SAPO, A RÃ E OS RATOS

Eu não sei por que, mas essa crise da Grécia tem alguma coisa de familiar com a crise no Brasil, este gigante pela própria natureza hoje engolfado num lodaçal de corrupção que turvaria as águas do mar Egeu. Pensando bem, talvez não seja propriamente a crise, mas a leitura que se pode fazer dela nos moldes traçados pela milenar cultura grega.

Ah, é isso! Agora me lembro. As fábulas de Esopo. Ele viveu antes de Cristo e, assim como Jesus, não deixou nada escrito, mas ambos legaram à humanidade ensinamentos que transcendem a sua época. Ele não era Deus – embora tenha nascido na terra dos deuses – mas eternizou lições de moral em pequenas histórias alegóricas cujos títulos ainda ressoam nos tempos atuais. Quem não se lembra da cigarra e a formiga, do lobo e o cordeiro, da raposa e as uvas?

Pois é. Vamos agora atravessar a cortina do tempo e imaginar o renascimento de Esopo no Brasil de hoje, fazendo caminhadas em torno do Lago Paranoá e acompanhando as peripécias dos nossos políticos. Teria material de sobra para narrar, por exemplo, a fábula “O sapo, a rã e os ratos.” Seria mais ou menos assim:

Era uma vez um rei sapo que morava num palácio à beira do lago, de onde liderou seu povo por oito primaveras. Foi nesse período que os ratos – uma praga antiga – se infiltraram com maior apetite nas despensas do palácio, ocupando praticamente todos os buracos, armários, celeiros e gavetas disponíveis. Mas a comilança desenfreada se alastrou para outras dependências extramuros, concentrando-se numa fantástica fábrica de queijos (Queijobrás?) operada por roedores da estrita confiança do rei sapo, sucedido pela rã que ele mesmo indicou para igual período.

E o batráquio já estava pensando em retomar o comando do festim, ao fim da quarentena, quando apareceu na cidade um flautista caçador de ratos, com doutorado em Hamelin, especialista na arte de hipnotizá-los e prendê-los. Apavorados e na expectativa de salvar a própria pele, uns passaram a delatar os outros, apontando as patas sujas para o alto, em direção ao palácio e adjacências. Não escapou nem mesmo o colorido camaleão das alagoas, que já havia sido expulso de lá antes do sapo e, depois, voltou à ribalta ainda mais esfomeado. E agora todos eles correm o risco de serem amarrados dentro do mesmo saco e, entre guinchos e coaxos, jogados na masmorra da Papuda.

E o que diria o Esopo tupiniquim sobre a moral desta fábula?

- Ratoeira que pega os ratos prende o sapo.

Acredite quem quiser. De minha parte, acho mais fácil a Grécia se livrar da crise do que o Brasil dos ratos, dada a sua incrível capacidade de multiplicação.

Pereirinha
Enviado por Pereirinha em 18/07/2015
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