Posso Falar?
Partindo do princípio de que vivemos num regime democrático e na liberdade de manifestação, podemos dizer: sim, posso falar. Entretanto, na prática, temos que antes analisar sobre o que falar, de quem falar, onde e quando falar.
Por ter andado por lugares diferentes e também em épocas diferentes, sempre me pautei na frase de minha avó: “quem anda em terra alheia pisa no chão devagar”.
Passei por uma cidade, na época muito carente, sem estrada asfaltada, sem comunicação telefônica, sem imagem de televisão, entre outras coisas básicas do dia a dia. Como provinha de outra que já contava com esses meios, isto me causou certo impacto. Aproveitando o espaço de um jornal estadual, na coluna opiniões, ali escrevi algo muito mais no sentido reivindicatório do que crítico, pensando em contribuir para a melhoria da cidade, onde vivia com a família.
Certo dia, uma pessoa com quem eu tinha um bom relacionamento, um cidadão a quem eu sempre tive o maior respeito pela sua postura ética e moral, aconselhou-me a suspender aquelas minhas publicações. Não entendi o motivo, visto que, na minha visão, eu não estava falando mal de ninguém. Apontava o fato, mas não o culpado. Então, ele acrescentou: “É o que você pensa. Alguém pode sentir-se incomodado”.
E como na região havia aquele preceito de que “quem não fica de bico calado pode amanhecer no dia seguinte com a boca cheia de formigas”, assumi a postura de um “nordestino frouxo”, mas sobrevivente. Nada de querer ser “herói morto.”.
Ainda hoje, quando ninguém imagina essa situação, ainda há lugares em que prevalece a “lei do trabuco”. Quem duvidar que vá lá e enfrente os coronéis.
O mesmo vale para a comparação com países vizinhos que, embora se apresentem como governo civil e democrático, age como uma perversa ditadura. Posso falar?
Não, porque o meu lema é “ver, ouvir e calar”.