A bunda (banda) larga
Belinha (60), Alair(40), e Vitor(20) respectivamente mãe filho e neto moram na mesma casa. Um só banheiro, um só computador. Quando Alair ficou desempregado destinou o FGTS para comprar um computador.
- Ele vai me ajudar a trabalhar em casa.
- Pai só se tiver banda larga.
- Banda larga que conheço é quando no carnaval ela toma a rua toda. – fala Belinha entrando na conversa.
Vão juntos comprar o tal computador.
- Não seria melhor primeiro pintar a casa ?
- Mãe com o que eu vou ganhar, nós poderemos até comprar uma casa maior.
- Quero depois fazer faculdade. – fala Vitor empolgado.
No trajeto até à loja, os três nomeiam os seus interesses no computador.
- Vitor eu estou comprando pra trabalhar.
- Em que você vai trabalhar?
- Marketing mãe.
- O que é isso?
- Quando você convence as pessoas a comprar seu produto. – explica Vitor para a avó.
- Meu filho você não tem nada pra vender.
- As empresas têm. Eu vou ser a ponte entre o produtor e o consumidor.
- Taí, gostei. Pai você é um cara safo.
- Podíamos comprar um sofá cama novo, aquele nosso está horrível.
- Não inventa mãe não tem lugar pra mais nada além do computador.
- O dinheiro dá pra impressora? Poderíamos ter uma multifuncional. – Vitor sugere.
- Minha aposentadoria de costureira é só de um salário mínimo. Vitor tem a bolsa de estudos de um salário, mas tem conta de telefone, comida, luz. Se ao menos tivéssemos mais uns auxílios do governo.
- Então mãe, vou economizar pra comprar nossa vara de pescar.
- Ta doido? Pra que vara de pescar?
- Metáfora vó. O computador vai ser a vara pra pegar o peixe pra comer.
- Não, é pra ganhar o pão nosso de cada dia.
Na loja mostram para Alair um excelente computador cheio de mais mais.
- Quanto custa com a multifuncional?
- Três mil e duzentos.
O espanto é grande. Alair chama a mãe e o filho pro canto.
- Que vocês acham?
- O fim da picada. Moramos numa casa de quatro cômodos que precisa de móveis e pintura nova e você quer comprar um computador que custa um carro? Seu Brás ta vendendo o carro por três e quinhentos.
- Compra pai, eu vou trabalhar também.
- Tem a banda larga... – fala Alair.
- É já ia esquecendo da banda larga. – fala Vitor.
O vendedor se aproxima.
- Então vamos fazer negócio?
Quando chega o computador, Alair não contava que a notícia tinha corrido toda a vizinhança. Ele vê uma multidão à espera como se fosse a chegada do “caminhão do Faustão”. Belinha anunciou que a garotada poderia tirar xerox na casa dele a vinte centavos, fazer pesquisa por assunto por cinco reais e que também poderiam ser sócios pagando por mês pra usar o computador. O único problema era o banheiro, estava cheio de caixas dos aparelhos e a porta não fechava. Quando a Belinha ia usar o banheiro os garotos sempre gaiatos comentavam olhando para ela esparramada no vaso:
- É, aqui tem bunda larga!