Sinais

 
Se Deus existe, por que Ele não me dá um sinal de Sua existência? Como por exemplo, abrir uma bela conta em meu nome num banco suíço?
Woody Allen
 
Seja fruto da fé, da ingenuidade, da intuição ou da experiência, a todo instante nos deparamos com sinais que, de alguma forma, nos apontam caminhos, ativam nossos alertas ou nos preparam para o futuro.
Nuvens fechadas são sinal de chuva, serração baixa é sinal de sol. Fumacinha saindo da boca, é sinal de frio; estômago roncando é fome. Para alguns, cara feia também é.
Nem todos os sinais, porém, são assim, tão inequívocos. Cães abanam o rabo quando estão felizes e, também, quando vão atacar. É um pitbul. Vai encarar?
O sujeito olha a moça de cima a baixo e morde de leve o lábio inferior. Sinal de atração? Não. Ele é estilista e odiou as roupas dela.
Pequenas desatenções podem indicar o esfriamento da paixão ou um momento difícil em outra área da vida; muito mimo e elogio pode ser amor ou apenas bajulação; desdém excessivo pode denunciar desprezo. Ou cobiça, como diz o ditado.
Muitas doenças seriam evitadas se observássemos mais os sinais que o corpo dá. Alarmar-se a cada sinal desses, porém, pode ser sinal de hipocondria.
Daí, lembrei de uma historinha verídica que ilustra bem essa confusão:
As duas irmãs adolescentes chegam da igreja e a mais velha, no banho, ainda enlevada pelo sermão ouvido há instantes, escreve no vapor que embaçava o blindex: "Jesus te ama".
Quando a mais nova entrou no box, o vapor já havia se dissipado. Porém, bastou ligar o chuveiro para que ele retornasse, fazendo a inscrição reaparecer.
Ao ler aquilo, a menina de 12 anos acreditou-se diante de um sinal divino e cismou que seria freira. A vocação religiosa resistiu à revelação do mistério pela irmã, mas não ao sorriso do primeiro namorado.
Uma imagem fala mais que mil palavras, mas nem sempre ela fala a verdade. Com os sinais, é a mesma coisa. Por isso, na dúvida, melhor usar mesmo as mil palavras. E mais algumas, se necessário.
Porém, há situações em que não dá pra verbalizar e só nos restam os sinais. No trânsito, por exemplo, eles podem salvar vidas.
Então, encerro este texto citando um aforismo (adaptado a este ambiente familiar), que cabe tão bem a alguns motoristas de Brasília:
Dar a seta não dói. Dê, sem medo!
 

Texto publicado no Alô Brasília de hoje.