SOÇAITE MATUTO

Fui duirante trinta anos funcionário de um banco estatal no interior de Pernambuco. Sempre me relacionei bem com todos os colegas, mas com os administadores tinha certas diferenças porque sempre fui delegado sindical e representante dos funcionários no comitê da agência. Era, pois, um empata-sampa para os chefes. E ainda por cima era da esquerda, mesmo nos tempos da ditadura.

Mas apesar dessa diferenças eu me dava bem com eles, noves fora assuntos como greves, marcação com funcionários, empréstimos fora das normas e etc e coisa e tal.

Com um dos gerentes até fiz uma boa amizade, ele gostava de conversar comigo sobre livrfos, futebol e MPB.apesar dos nosos eventuais e costumeiros "pegas". Era bom sujeito, mas tinha uma fraqueza: era deslumbrado pelo soçaite matuto da cidade. Tornou-se um pilar desse soçaite, clubes de serviço, maçonaria, entiades de toda espécie. Não se dava um peido no soçaite sem que ele estivesse presente, era arroz de festa. Unha e carne com aqueles sujeitos que só querem tirar proveito da amizade com gerente de banco. Ele chegou até a comprar uma casa e reformar na cidade, casa bonita, da moda. Já perto de se aposentar, conversando comigo na gerência, depsois de uma discussão sobre um empréstimo que vetei como representante do comitê, ele me disse que depois da aposentadoria iria fixar residência na cidade porque se entosava bem com a sociedade e iria, quem sabe, ensinar em colégios, dar palestras, enfim, ser um líder da comunidade. E pediu minha opinião. Fui curto e grosso, disse que era um erro, ele não era da cidade, não tinha amigos - ele grelou os olhos -, que essas pessoas que se diziam ser seus amigos eram apenas aproveitadores, apontei para a pasta do empréstimo indeferido, que eles não eram amigos dele, mas amigos do cargo que ele ocupava, sem o cargos desapareceria sua importância e amizade. Ele replicou afirmando que eu quando me aposentasse também ficaria na cidade e, naturalmente, não seria rejeitado. Não quis polemizar, apenas disse que comigo era diferente, eu era antisocial, combatia toda essa curriola e tinha meu mundinho à parte, pessoas que eram minhas amigas sem interferência de cargo. Morreu ali a conversa.

Bom, o tempo passou. Ele se aposentou, eu também. às vezes eu o encontrava na padaria e achavo-o meio triste, mas não puxava papo. Um dia bem cedo, era um sábado, ia passando pela praça a caminho rádio onde tinha um programa, quando o fim siozinho num banco da praça. Fui até lá e sem que eu disesse nada ele piongo, triste, derrottado disse: "Você tinha razão, esse pessoal era amigo domeu cargo, hoje nem ligam para mim. Vendi a casa e vou embora". Não perguntei mais nada. Na vida a gente faz escolhas, eu fiz as minhas sempre do lado oposto ao soçaite matuto.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 17/07/2015
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