Sobretormento
Quando a lembrança dos amores que tive na vida inspeciona os meus sentimentos, insiste, tal lembrança, em censurar-me pelo desprezo a um deles... Que bobo foste tu! me diz, parecendo, ela própria, ferida por meu tormento, a lamentar meu erro. Por quê? me pergunta. Por que maltrataste tanto justamente àquele amor? Não fora exatamente ele que pareceu desabrochar em função de ti? Tal qual uma rosa a resvalar-te confiante para os braços? absolutamente sem nenhuma marca, a dizer sou tua? Cuida de mim? Pensaste que no mundo poderias encontrar um “carmim” mais puro, belo? mais dado a ti? Mandaste embora aquele amor e agora sofres. Coitado de ti! sentencia minha lembrança.
Mas, o que ela não sabe é que aquela flor, desprezada que fora, caíra. Por minha causa se arrastara pelas veredas da existência. Longe de meus olhos, esfolara-se toda. E deu-me a conhecer tal fato agora...