A Festa das Neves virá por aí
Recomendo às crianças comerem frutas que ameaçam desaparecer, convencendo-as de que comam para dizer no futuro que as conheceram... Assim também procedo em relação a alguns valores e costumes, como a festa que comemora a fundação ou a Padroeira da cidade. Conto às netas e netos que minha primeira “festa das neves” foi em Pilar: Sem rodas gigantes, com carrossel girado pelo dono, e no meio dele rodando um "sivuca" sanfoneiro. Preferia o carrossel à canoa que dava frio na barriga, com suas subidas e descidas, uma mais alta do que a outra. Maior atração: os enormes blocos de gelo, trazidos da capital pela “sopa” de Itabaiana; enrolados em estopa, sob pó de serra, para esfriarem as cervejas, o guaraná, e toda a bebida da festa. Disputávamos o privilégio de tocar aquelas pedras e de experimentar seus pedaços, o que lembra índios trocando ouro pelo gelo. Dona Silvia dizia que as bolas de festa, sopradas pela mágica, voariam através das nuvens até o céu. A magia acabou quando, para obter hidrogênio, o vendedor de bolas foi visto misturando ácido sulfúrico com o zinco dos vazios tubos de pasta dental colhidos no chão das ruas sem calçamento...
Já em Itabaiana, balanços e carrosséis interessavam gente grande. Também o enorme “pavilhão”, onde se leiloavam galetos, perus, bodes e carneiros. Enfileiravam-se barracas, roletas como as dos cassinos, tiro ao alvo, casinhas de coelho, pirâmides de latas derrubadas por bolas de meia e o homem que virava macaco. Foi então que minha idade entendeu a quermesse como ocasião de conquistas amorosas, troca de bilhetes, piscar de olhos e “flirt”; de se angariar dinheiro para consertos e a pintura da igreja; também já observava a procissão: mulheres cobrindo com mantilhas as cabeças, e os homens descobrindo-as com chapéus na mão.
Em 1959, conheci, na Rua General Osório e adjacências, da pompa à “bagaceira”, a verdadeira Festa das Neves. Cabiam dentro dela as de todos os outros lugares. Hoje, a Comissão da Festa tudo planejou: montanha russa, maçãs carameladas... Como algumas frutas, ela ameaça desaparecer. As crianças não saberão escrever sobre ela, pois serão levadas a coisas estranhas à infância: televisão, conversas e brincadeiras do celular ou passeio no shopping, como se tivessem perdido a meninice. Os jovens namorarão noutro lugar, poucos saberão o que significa 5 de agosto para a cidade. Talvez a Festa das Neves virá por aí...
Recomendo às crianças comerem frutas que ameaçam desaparecer, convencendo-as de que comam para dizer no futuro que as conheceram... Assim também procedo em relação a alguns valores e costumes, como a festa que comemora a fundação ou a Padroeira da cidade. Conto às netas e netos que minha primeira “festa das neves” foi em Pilar: Sem rodas gigantes, com carrossel girado pelo dono, e no meio dele rodando um "sivuca" sanfoneiro. Preferia o carrossel à canoa que dava frio na barriga, com suas subidas e descidas, uma mais alta do que a outra. Maior atração: os enormes blocos de gelo, trazidos da capital pela “sopa” de Itabaiana; enrolados em estopa, sob pó de serra, para esfriarem as cervejas, o guaraná, e toda a bebida da festa. Disputávamos o privilégio de tocar aquelas pedras e de experimentar seus pedaços, o que lembra índios trocando ouro pelo gelo. Dona Silvia dizia que as bolas de festa, sopradas pela mágica, voariam através das nuvens até o céu. A magia acabou quando, para obter hidrogênio, o vendedor de bolas foi visto misturando ácido sulfúrico com o zinco dos vazios tubos de pasta dental colhidos no chão das ruas sem calçamento...
Já em Itabaiana, balanços e carrosséis interessavam gente grande. Também o enorme “pavilhão”, onde se leiloavam galetos, perus, bodes e carneiros. Enfileiravam-se barracas, roletas como as dos cassinos, tiro ao alvo, casinhas de coelho, pirâmides de latas derrubadas por bolas de meia e o homem que virava macaco. Foi então que minha idade entendeu a quermesse como ocasião de conquistas amorosas, troca de bilhetes, piscar de olhos e “flirt”; de se angariar dinheiro para consertos e a pintura da igreja; também já observava a procissão: mulheres cobrindo com mantilhas as cabeças, e os homens descobrindo-as com chapéus na mão.
Em 1959, conheci, na Rua General Osório e adjacências, da pompa à “bagaceira”, a verdadeira Festa das Neves. Cabiam dentro dela as de todos os outros lugares. Hoje, a Comissão da Festa tudo planejou: montanha russa, maçãs carameladas... Como algumas frutas, ela ameaça desaparecer. As crianças não saberão escrever sobre ela, pois serão levadas a coisas estranhas à infância: televisão, conversas e brincadeiras do celular ou passeio no shopping, como se tivessem perdido a meninice. Os jovens namorarão noutro lugar, poucos saberão o que significa 5 de agosto para a cidade. Talvez a Festa das Neves virá por aí...