Aquele Alemão
na História e na Literatura
Caminhos. Descaminhos. Estradas...
Foi assim que aquele alemão saiu de sua terra natal, singrou o oceano e aportou no Império brasileiro.
Ele veio fazer parte da força que o imperador contratou para garantir a independência brasileira e acalmar revoltosos após a independência. Ele tinha experiência militar adquirida na Batalha de Waterloo contra o exército napoleônico.
Após seu contrato militar acabar e como era engenheiro viera para Minas Gerais extrair possibilidades mineradoras. Percorreu o “Caminho Novo” que ligava Ouro Preto ao Rio de Janeiro. Não veio só. Trouxera sua esposa que após lhe dar filhos morrera.
Este alemão já se considerava brasileiro e após casar pela segunda vez com uma descendente dos Tostes requereu a cidadania brasileira. Comprou terras em Minas e também herdou com este casamento. Com isto tornou-se um dos fundadores da cidade de Juiz de Fora que pertencia à Barbacena até que fora elevada à Vila em 31 de maio de 1850.
Ainda em 1836 assinou com o governo provincial de Minas contrato com o qual tinha como uma de suas obrigações construir uma estrada entre Ouro Preto e a divisa da província do Rio de Janeiro no rio Paraibuna.
Ele era “O Criador de Caminhos”, assim chamado por Maria de Lourdes A. de Oliveira em seu livro.*¹ Nesta obra a autora apresenta esta personagem histórica como literária mostrando-o como herói que sofre o processo de vitimização da sociedade em que vive e que irá superar as dificuldades como se lê:
“Halfeld sabia que era olhado... pelos inimigos, com inveja. Nos olhares trocados entre os da terra, que escondiam conciliábulos secretos, era tachado de agiota, judeu, soldado mercenário, aventureiro e, quando não dispunham de outros termos para qualificá-lo, cuspiam a palavra alemão, como se fosse o pior dos escrachos, o mais escabroso dos estigmas, carregada de todas as misérias do mundo. Ser alemão era ser o outro, o diferente, o que não fazia parte da cultura da terra, que, mesmo sabendo a língua, não era capaz de dizê-la de um jeito doce, mas carregado de sons que agrediam os ouvidos. Ser alemão era comer repolho podre e queijo cheio de bichos, era ser vermelho, era rir de um jeito estranho, era ser ingênuo e “levar manta” de qualquer pé-rapado da terra. Para alguns, era ser o simplório que fundou uma cidade pantanosa. Ser alemão era ser o excluído.”(p.125 e 126)
Este alemão, após a morte de sua segunda esposa, casaria com sua terceira mulher que é analisada historicamente por Rosali M. N. Henriques em seu livro.*²
Ela foi avó de Pedro Nava*, um memorialista que apresenta outra forma literária da figura histórica deste alemão e é transcrita no livro de Rosali:
“Primeiro terras, terras, terras, sesmarias, sesmarias e sesmarias. Em Juiz de Fora, olaria e material de construção. Não há casa velha na cidade para a qual ele não tenha vendido telhas: caco de telha para atochar alicerce, às carradas: tijolo de poço, de moldura, de cimalha e tijolo liso – aos milheiros, areia às carroças. Pedras de suas pedreiras. Lenhas de seus matos. Depois alugava seus pastos. Alugava escravos de ganho. Alugava, construía e vendia casas. Fornecia material de revenda, como ao cunhado e aos filhos para a construção do Cemitério e do Teatro. Agiotava. Empresta mediante hipoteca de objetos e escravos.”
É assim que este alemão, Henrique Guilherme Fernando Halfeld, percorreu caminhos fazendo História e sendo objeto de construção nos caminhos literários do romance e da Memória na literatura brasileira.
na História e na Literatura
Caminhos. Descaminhos. Estradas...
Foi assim que aquele alemão saiu de sua terra natal, singrou o oceano e aportou no Império brasileiro.
Ele veio fazer parte da força que o imperador contratou para garantir a independência brasileira e acalmar revoltosos após a independência. Ele tinha experiência militar adquirida na Batalha de Waterloo contra o exército napoleônico.
Após seu contrato militar acabar e como era engenheiro viera para Minas Gerais extrair possibilidades mineradoras. Percorreu o “Caminho Novo” que ligava Ouro Preto ao Rio de Janeiro. Não veio só. Trouxera sua esposa que após lhe dar filhos morrera.
Este alemão já se considerava brasileiro e após casar pela segunda vez com uma descendente dos Tostes requereu a cidadania brasileira. Comprou terras em Minas e também herdou com este casamento. Com isto tornou-se um dos fundadores da cidade de Juiz de Fora que pertencia à Barbacena até que fora elevada à Vila em 31 de maio de 1850.
Ainda em 1836 assinou com o governo provincial de Minas contrato com o qual tinha como uma de suas obrigações construir uma estrada entre Ouro Preto e a divisa da província do Rio de Janeiro no rio Paraibuna.
Ele era “O Criador de Caminhos”, assim chamado por Maria de Lourdes A. de Oliveira em seu livro.*¹ Nesta obra a autora apresenta esta personagem histórica como literária mostrando-o como herói que sofre o processo de vitimização da sociedade em que vive e que irá superar as dificuldades como se lê:
“Halfeld sabia que era olhado... pelos inimigos, com inveja. Nos olhares trocados entre os da terra, que escondiam conciliábulos secretos, era tachado de agiota, judeu, soldado mercenário, aventureiro e, quando não dispunham de outros termos para qualificá-lo, cuspiam a palavra alemão, como se fosse o pior dos escrachos, o mais escabroso dos estigmas, carregada de todas as misérias do mundo. Ser alemão era ser o outro, o diferente, o que não fazia parte da cultura da terra, que, mesmo sabendo a língua, não era capaz de dizê-la de um jeito doce, mas carregado de sons que agrediam os ouvidos. Ser alemão era comer repolho podre e queijo cheio de bichos, era ser vermelho, era rir de um jeito estranho, era ser ingênuo e “levar manta” de qualquer pé-rapado da terra. Para alguns, era ser o simplório que fundou uma cidade pantanosa. Ser alemão era ser o excluído.”(p.125 e 126)
Este alemão, após a morte de sua segunda esposa, casaria com sua terceira mulher que é analisada historicamente por Rosali M. N. Henriques em seu livro.*²
Ela foi avó de Pedro Nava*, um memorialista que apresenta outra forma literária da figura histórica deste alemão e é transcrita no livro de Rosali:
“Primeiro terras, terras, terras, sesmarias, sesmarias e sesmarias. Em Juiz de Fora, olaria e material de construção. Não há casa velha na cidade para a qual ele não tenha vendido telhas: caco de telha para atochar alicerce, às carradas: tijolo de poço, de moldura, de cimalha e tijolo liso – aos milheiros, areia às carroças. Pedras de suas pedreiras. Lenhas de seus matos. Depois alugava seus pastos. Alugava escravos de ganho. Alugava, construía e vendia casas. Fornecia material de revenda, como ao cunhado e aos filhos para a construção do Cemitério e do Teatro. Agiotava. Empresta mediante hipoteca de objetos e escravos.”
É assim que este alemão, Henrique Guilherme Fernando Halfeld, percorreu caminhos fazendo História e sendo objeto de construção nos caminhos literários do romance e da Memória na literatura brasileira.
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 09/07/2015.
*¹ OLIVEIRA, M. de Lourdes. Bravo Brasil – Romance Histórico . Fundamento.2015
*²HENRIQUES, R. Maria Nunes. A Mulher em Juiz de Fora sob o Olhar de Pedro Nava. Funalfa.J.F. 2015.
*Pedro Nava é neto da terceira esposa, Maria Luísa, de Henrique Guilherme Fernando Halfeld que enviuvando-se dele e ainda jovem casara-se pela segunda vez.
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