Um caso ribeirão pretano
Teve uma época que eu andava pelas noites com um sujeito anarquista.
Ou pelo menos que se dizia ser isso.
Ele forçava um estilo punk rebelde, de que não estava nem ai pra nada nem pra ninguém.
Vivia de bar em bar arranjando brigas e contando histórias sórdidas de quando vivia em outra cidade.
Eu não acreditava em metade dessas histórias e me mantinha distante quando ele começava suas discussões mais acaloradas com qualquer um que ele não fosse com a cara.
Mas eu achava divertido assistir aquilo tudo. Talvez essa não tenha sido uma das fases mais sãs da minha vida
Por uma questão de discrição eu vou me referir ao tal sujeito como simplesmente ‘meu amigo anarquista’, ou algo que o valha.
Devo tê-lo conhecido no mês de julho ou agosto, em 2012. Fazia frio em Ribeirão Preto, o que era algo raro. Saíamos sempre nas sextas e sábados, e vagávamos entre festas particulares de estudantes e em bares baratos frequentados por roqueiros e outros alternativos. Eu me mantinha com uma bolsa de estudos, e meu amigo, sabe Deus lá com que dinheiro, portanto era tudo o que podíamos nos dar ao luxo de pagar. Boa parte do tempo, ele esteve envolvido com uma garota menor de idade, que eu não acho que tinha maturidade suficiente para saber se ele era uma boa escolha para dividir a cama ou não. Acredito que ela fazia aquilo simplesmente por que ele era mais velho e tinha algo de ameaçador.
Eu era mais velho que os dois, mas sempre fui um tanto pacato e não tinha nada de muito diferente das outras pessoas da cidade, a não ser o fato de que eu tinha nascido bem longe dali. Em outra Região do País.
Eles dois brigavam pelo menos uma vez por semana, e tenho certeza que ele deve ter acertado um tapa ou dois no rosto dela durante suas brigas. Isso eu não tolerava. E foi um dos motivos pelos quais eu deixei de andar em sua companhia.
Mas antes disso, lembro que meu ‘amigo’ arranjou uma briga na porta de um bar já depois das duas da manhã. Eu estava gripado, cansado e bêbado. Tinha me conformado que nada de bom viria naquela noite e pensava ainda na última mulher que eu tinha levado para a cama, me apaixonado e perdido (não necessariamente nesta ordem). Estava completamente absorto nos meus pensamentos e lembranças quando ouvi a discussão na mesa do lado.
Aparentemente o ‘meu amigo anarquista’ havia se incomodado por um dos rapazes da mesa ao lado ser homossexual.
A discussão evoluiu e quando eu me apercebi, meu companheiro já havia levado alguns socos e caíra sentado no chão, de certa forma surpreso com o acontecido.
Me resumi a pedir desculpas ao rapaz da mesa vizinha e a levantar o ‘meu amigo’ e levá-lo para fora do bar.
Ele começou a falar coisas que eu não conseguia compreender. Até hoje não sei se eu simplesmente não estava nem aí para o que ele dizia, ou se era por ele estar bêbado demais para articular algo que fizesse sentido.
Já havia me decidido a tomar o caminho de casa quando percebi uma moça morena (particularmente mais bonita que a média do bar) se aproximando, e tentando apaziguar os ânimos do combatente bêbado e derrotado que estava ao meu lado.
Conversaram por alguns minutos e depois ela se sentou ao meu lado, sorrindo.
Eu não entendia muito bem por que ela sorria. Apesar de que agora eu posso imaginar que toda a cena tenha sido de certa forma engraçada.
Trocamos algumas palavras e depois alguns beijos – Sinceramente não sei como chegamos a isso -.
Depois de um tempo ela foi embora e o seu nome se desvaneceu em minha memória.
Paguei a conta e fui para casa sozinho ainda bebericando uma cerveja que já quase não descia.
Talvez quem tenha se dado ao trabalho de ler todo esse conto esteja agora se perguntando... “e daí? Cadê a moral da história?”
Não tem nenhuma “moral”. Ou na verdade, a moral seja justamente essa.
Nunca mais vi o tal anarquista.
Nunca mais vi a moça, nem lembro o seu nome.
Situações acontecem e você nunca sabe se elas vão repercutir na sua vida dali em diante, ou se vão ser só algo que você vai lembrar alguns anos depois e dar algumas risadas, como foi o caso dessa história.