“VIM VI VENCI”
“DECOREI, DEIXA VER.” e repito as palavras na cabeça. “Será que vai dar certo? não, vai sim decorei.” E repto novamente. O sarau já começou e alguns poemas já foram declamados.
Antes os preparativos... Sentado na cadeira daquela sala e todos os colegas envolta, alguns com violões, o professor organizando seus papeis. Cada um vai em frente ao microfone e num instante todos os rostos se voltam para a pessoa que vai falar. A atenção é toda dela, e começa declamando um dos vários poemas de Vinicius de Moraes:
“Soneto de Fidelidade”
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
(...)
Um teste, temos que adquirir confiança, perder o medo e a vergonha. As palavras saem sem querer sair os gestos são precavidos, as mãos não sabem como se comportar. E os minutos passam, alguns são tão descontraídos. Os dias se vão e o texto na cabeça, a força de repetição, parece tão fácil.
Meu nome é chamado, me levanto, vou à frente, poucos segundos se passam até perceber o que tenho que fazer, silencio, começo a falar:
“Trilogia Macabra: I - O Torturador”
O torturador
difere dos outros
por uma patologia singular
ser imprevisível
vai da infantilidade total
à frieza absoluta.
(...)
O dia, todo mundo no palco, expectativa nas alturas. Apresentação dos assuntos, musica, poemas. Declamando na frente com os colegas atrás, esperando sua vez. Procuro na plateia rostos conhecidos um parente, um professor, um amigo. Presto atenção nas minhas palavras e elas parecem sair mais rápido. Com a preocupação de acertar frase por frase, não aproveito tanto o momento. E no final fica a sensação de que poderia ter durado mais.
E já se foi o primeiro com: “Cálice” (Chico Buarque), O segundo com: “José” (Carlos Drummond de Andrade), e lá se vai o terceiro com: “O Torturador” (Alex Polari). Não só esses, mas vários outro: “Cabaret Mineiro” (Carlos Drummond de Andrade), “Pasárgada” (Manuel Bandeira). E tantos e tantos poemas.