SUPONHAMOS QUE VOCÊ MORRA
Suponhamos que você morra. Aí o que "sobrou" de você - alma, espírito, carma, o que for - consegue "ver" e "sentir" as pessoas queridas desesperadas com a perda irreparável e não pode fazer nada para minimizar toda aquela dor. A sua "indignação" é tanta que chega até determinado "controle central", que pode chamar de Deus ou algo neste sentido. O "controle central" que há bilhões de anos X bilhões de anos X bilhões de anos já está acostumado com reações assim, "tira de letra" a situação. Só que acontece algo diferente desta vez. Apesar dos bilhões X bilhões X bilhões de seres que encarnaram e desencarnaram por estas bandas desde sempre, a sua dor tocou de forma diferente - por incrível que possa parecer. Digo mais: sensibilizou. Mexeu com as estruturas, fez rever conceitos, balançou o entendimento original. Então o "controle central" decide levar o "caso" para as instâncias superiores (por que não teria?) e pede ajuda,
caso raro na sua rotina de atribuições, que de pouca não têm nada. Depois de muitas reflexões, pensam no que fazer concretamente a respeito. O seu corpo, no segundo seguinte à sua morte, já começou o irreversível processo de putrefação. Ressuscitar seria um caminho, mas já teve um caso anterior de sucesso neste sentido que já está de bom tamanho. Então surge uma ideia: colocar a sua essência vital num animal doméstico que seria adotado por aquelas criaturas e assim, de alguma forma, "sentiriam" a sua presença, seu amor, seu carinho por mais alguns pares de anos. Não substituiria a perda, é claro, mas seria uma forma de evitar que perdurasse só a dor, só a ausência, só a tristeza sem descanso algum.
Meu querido pai, Gerd Silbiger, morreu em 2002. Adotamos naquele ano uma cachorrinha basset, a Mel. Eu sei que esta minha história é absurda, que a morte é morte, o fim, o adeus, o nunca mais. Eu sei a que morte vem abruptamente pra arrancar da gente o que a gente mais ama. Eu sei que o tempo "cura" tudo, que tudo passa, que depois entramos novamente na rotina e tudo aquilo vai acabar perdendo sua força, novas coisas vão acontecer e preencher de alguma forma aquele espaço que ficou vazio de uma hora para outra e blá, blá, blá.
Hoje, depois de 14 anos, fui passear com a minha cachorrinha como faço todos os dias com a maior alegria e numa certa hora ela me olhou fixo e seu senti nesse olhar algo familiar, querido e repleto de saudade.
Então resolvi escrever este texto.
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