MEUS NOVE FILHOS.
Pari três meninos lindos,que em média a cada década se duplicavam.
Talvez isso não proceda para todas as mães;talvez essa característica seja mais minha,que da natureza humana e se assim for,posso dizer que este traço,me tornou uma mãe, nove vezes mais feliz que as outras.
Mergulhei fundo na infância deles;fui a parte lúdica,que talvez um dia se lembrem com saudade.Sorvi cada coisa engraçada que disseram ou que fizeram,de tal forma,que delas me recordo até hoje,assim como também me aproveitei de suas amizades com ânsia e ganância por suas companhias;as melhores das melhores que tive,mesmo incluindo minha própria infância, porque,em sendo amigos filhos,os via também com a enorme admiração que todo criador tem por suas criaturas.
Assim fui agraciada em poder ser criança pela segunda vez.
Vivendo sós,nunca tive a intenção de exibí-los ao mundo,mas de desfrutar com eles,cada segundo.
De mãe,só tive a responsabilidade em mantê-los sãos;de resto,eram meus irmãos e minha felicidade.
E sem saber o que fiz por merecer,de repente entraram em minha vida três adolescentes, cheios de vitalidade,vaidade e amor para dar.
Troquei o itinerário de levá - los e buscá - los na escola;pelo caminho do clube,das aulas de inglês, judô e natação e dos bailinhos ocasionais.
Troquei as mordidas nos pés,pelo cheiro de chulé; os parquinhos das pracinhas da cidade, pelos parques temáticos da Disney;os super heróis imaginários, pelas princesas da vida real.
E assim, pouco a pouco,as historinhas infantis fictícias ou mentirosas que eu lhes contava as vezes,foram substituídas pelas aventuras reais que eles me contavam agora.
Deixei de vibrar pelas conquistas pelas quais todos adultos vibram e passei a torcer nos estádios,por suas vitórias nas competições de judô e natação.
Juntos chegamos a faixa preta e lotamos caixas e caixas de medalhas de ouro,prata,cobre e ansiedades,nas duas modalidades.
Nesta época tive a chance de me apaixonar pela primeira vez,muitas vezes e de me aventurar,da segurança da cidade,pelas lagoas e cascatas do centro oeste brasileiro e pelas muitas montanhas russas do cenário mundial.
Pratiquei rappel, bóia cross,ski,escalada, mergulho,descida de bote em cachoeiras e muitas outras atividades esportivas,que minha adolescência feminina não me havia permitido.
Meu Deus,como tive amigos nesta época...
Inesperadamente me apareceram três universitários e comecei a me tornar desnecessária para ensinar tarefas,tomar lições,ir junto comprar roupas e programar viagens.
Eles começaram a transitar pelas Américas e pela Europa,com a naturalidade de quem havia nascido lá,pois tinham o respaldo das viagens anteriores onde eu os tinha acompanhado e elucidado sobre história, arte e geografia.
Esses adultos,embora me amassem,já não me admiravam mais e percebi que,em tudo,eu destoava de suas vidas.
Um a um,foram tomando seus caminhos e as rédeas de seus destinos.
Nossas atividades tornaram - se outras,nossas crenças começaram a se diferenciar,nossos caminhos se distanciaram...mas nunca estiveram tão presentes.
Dou-lhes o espaço que necessitam para se encontrarem e se firmarem na vida,mas o fato de não estarem sob meus olhos,não os tira do meu coração.
Sim,tive nove filhos...Recordo todos os dias,algo de cada um e vejo como fui feliz em tê-los, pois a cada recordação, estes nove se multiplicam por nove e por nove outra vez e eu renasço a cada lembrança;
mesmo que ela seja a saudade o cheirinho do talco dos meus bebês ao saírem do banho,do odor da mistura de suor e areia ao saírem da escolinha e de seus perfumes importados,ao saírem para sempre de casa.(eu)