A cura da depressão em três conselhos simples
 
          Certo dia, estava na sala da direção de uma grande escola e presenciei o seguinte diálogo, bastante elucidativo quanto ao que muitas pessoas acreditam ser a causa (ou a cura?) para a depressão:
 

      – Com licença, professor. Eu vim trazer o atestado... sobre as faltas das duas semanas.
          – O que você teve?
          – O médico disse que devo estar com depressão...
          – Depressão?! – O professor olhou espantado para a aluna. Parecia avaliar as condições físicas da adolescente de catorze anos.
     Silêncio de alguns segundos. Olhei a menina também. Claro, se fosse só pela aparência, ela estaria ótima. Sabe aquelas típicas frases: nem parecia que o Fulano estava tão mal!? Ele estava sempre sorrindo, sempre de bem com a vida e coisa tal? Então, a jovem aparentava estar bem. Como se depressão pudesse ser diagnosticada apenas pela aparência da pessoa.
          Então, o professor aconselhou:
          – Você tem que se esforçar. Tem que querer vencer!
          O tom dele era amigável, realmente repleto de boas intenções, como costumam ser esses conselhos.
          A garota permaneceu em silêncio. E o professor deu o segundo conselho:
          – Você tem alguma fé? É importante ir para uma Igreja.
       Sim, já ouvi de um conhecido que foi diagnosticado com TOC e síndrome do pânico que ele não podia ter essas coisas, pois ele era “um homem de Deus”. E, ser um homem ou mulher de Deus, na concepção de muitas pessoas, consegue torná-los imunes à depressão. Seria bom que os tornasse livres de quebrar uma perna ou ter qualquer doença. Mas, parece que só funciona para os males da alma. Se você tem depressão ou coisas parecidas, só pode ser um problema espiritual...
          A garota não respondeu.
          Finalmente, veio o terceiro bom conselho:
          – Tem algum asilo ou creche onde você mora? Você pode se voluntariar, ajudar lá.
          Claro! A depressão é falta do que fazer, minha gente. Quem trabalha muito não deve ter esse problema. E se você trabalha em prol do próximo, melhor ainda. É vacina na certa! É sério, muita gente realmente acredita que quem tem uma vida agitada não vai ter depressão nunca.
          A garota permaneceu só ouvindo. Como não emitisse nenhuma resposta a qualquer dos conselhos dados, parece que a conversa, aliás, o monólogo acabou por ali mesmo.
          Por fim, ela conseguiu entregar o atestado e saiu. Acho que se sentiu aliviada. Pelo menos eu me senti aliviada por ela!
       E fiquei lá, imaginando por que diálogo semelhante não acontece com atestados para doenças ou problemas como dengue, apendicite, câncer...
          
Até quando vamos achar que a depressão é frescura, fraqueza de caráter, ausência de fé ou falta do que fazer? Até quando conselhos bem intencionados vão continuando fazer mais mal do que bem?

IMAGEM: https://www.flickr.com/photos/wasfiakab/
 
Solimar Silva
Enviado por Solimar Silva em 11/07/2015
Reeditado em 08/05/2020
Código do texto: T5307360
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