COISAS QUE OUVI

Da série:Pequenas crônicas do cotidiano.

2 de dezembro de 2012

COISAS QUE OUVI

Durante minha caminhada,revivendo algumas pessoas com quem convivi , frases ou termos que proferiam com uma certa freqüência vieram-me à lembrança.

Por achá-las interessantes decidi publica-las.

Eis as pérolas:

“Saio de casa fazendo inveja aos lírios do campo” - Frase de meu tio Elias.Extremamente vaidoso, cheirava à glostora e vestia-se impecavelmente.Tinha sempre um melodioso assobio desenhando-se “em biquinho” pelos lábios.

“Não troques o amor velho pelo novo que há de vir.O amor novo vai embora e o amor velho irá servir”- Pérola de minha tia Lucinda alertando alguém que decidia substituir algum objeto ou utensílio antigo por outro mais moderno.

“Quem sabe cativar um coração,terá amizades de montão” – Frase de tio “Jequinha” ,filosofando entre uma rosquinha açucarada e outra.Adorava doces. Polaca e eu,conhecedores de seu paladar,preparávamos muitas guloseimas quando de suas visitas.

“O dia é dos vivos.A noite é dos invizíveis” – Frase de “Nhá Chiquinha”,sentada ao redor do fogão à lenha na casa de minha avó paterna.Proferia a pérola e lançava-me um sorrisinho tenebroso,que tornava-se ainda mais sinistro sob a pouca luminosidade do lampeão à querosene.Eu,menino ainda,quase borrava-me de medo dos “invisíveis” da bem intencionada (?) idosa.

“E o bradador ,que é também invisííííííííível, cruza o potreiro em seu cavalo preto,um pouco antes do relógio bater meia noite” – Complemento “light” de vó Maria às colocações de Nhá Chiquinha.Esta ,avalisava o complemento com novo sorrisinho e um gutural: “Verdade Nhá Maria...Verdade...”

“Filhos de minhas filhas:meus netos são. Filhos de minhas noras:Serão?...Ou não.” –De uma certa senhora,confiante na fidelidade das filhas e desconfiando da fidelidade das noras”.

“Apareça no meu rancho prá gente “trovejar” um amargo”. – Do velhinho Moisés convidando um amigo para tomar chimarrão em sua casa. O ruído da água subindo pela bomba,segundo suas palavras, lembra um trovão .Daquêles distantes,nas encostas e sopés de serras.

“Então ficamos em veremos” – Pérola de dona Hilda,minha mãe,quando algum assunto ficava para ser resolvido posteriormente.

“Tem gançinho novo na garganta” – De meu amigo Valdomiro,ucraniano da gema,referindo-se à mudança de voz dos meninos quando na puberdade.

“A mulherada anda mijando guaraná por minha causa” – De um certo radialista achando-se o máximo.

“Justo! Feito boca de bode” – Do mesmo radialista enaltecendo as virtudes de cidadãos corretos e...justos.

“Aceito um café bem quente.Estou _ e n c a t r u z a d a _ de frio” – Esta é de uma certa dona Maria,numa tarde gelada de inverno.Quanto ao termo “encatruzado” nem o tio Google soube esclarecer.

“Salve!..Salve!...Oh lua nova//Nêste céu que é de meu Deus//Tu que tão bem me conheces//Realiza os sonhos meus. Uma pausa,um silêncio...Um segredo que era só dela. Vó Izaura,em seu romantismo,saudando a lua nova quando a avistava pela primeira vez.

Joel Gomes Teixeira