Sobre o filme Em frente a classe

( Em português é divulgado como o Primeiro da classe )

Compartilho através deste texto o meu encantamento com este filme, recheado de oportunidades de crescimento interno, do diretor Peter Werner: Em frente a classe. É um filme baseado em uma história real. Mostra a vida de Brand Cohen ( James Wolk ) e todos os desdobramentos que nela acontecem devido, também, a descoberta desde os 6 anos de idade da Sindrome de Tourette.

A Síndrome de Tourette é um distúrbio neuropsiquiátrico caracterizado por diversos tipos de tiques, que podem ser motores ou vocais e que, geralmente, começam na infância. A pessoa faz movimentos e sons que não consegue controlar.

Mas este texto não é sobre a síndrome.

É sobre a pessoa que a possui.

É impossível não aprender muito com este filme. Brand oferece infinitas reflexões através de sua realidade. Mas podemos aproveitar com qualquer situação da vida que nos desafie. Tocamos em algumas questões que podem ir além do nosso lado racional.

Como lidamos com aquilo que não controlamos? Em nós? No outro? Como reagimos quando nos envergonhamos porque alguém está acordando nossos julgamentos?

No caso de Brand eram barulhos e movimentos que ele não controlava devido à síndrome. Esta sua atitude, desestabilizava muitos dos que conviviam com ele. Nem todos conseguem respeitar de verdade os limites dos outros. Assim, tenta-se de todas as formas controlar a síndrome através dos mais variados tratamentos. Brand ao conversar com seu pai, lhe diz o óbvio que se esconde em nós: não preciso de conserto, preciso que me aceitem.

Percebo que, muitas vezes, o que se busca controlar não é a síndrome, mas o que ela provoca em nós. A nossa impotência, os nossos medos, os nossos julgamentos e a nossa ignorância em certa medida. Digo ignorância pois, Brand recebeu em um dos inúmeros diagnósticos que isso iria passar e ele iria ficar normal como todo mundo. Como se fôssemos todos normais. Na verdade buscamos um equilíbrio saudável e possível nesta vida que nos desafia constantemente. Se olharmos bem, talvez, tenhamos nossos tiques e movimentos incontroláveis. A questão é que eles são mais silenciosos. Nossos barulhos muitas vezes, moram na nossa mente. Naquilo que pensamos. Nossos tiques moram em ansiedades socialmente aceitas e por isso passam batido sem chamar muita atenção.

Temos uma ilusão de esconder embaixo do tapete nossas dificuldades. Se a síndrome de tourette fosse mais silenciosa talvez não incomodasse algumas pessoas. A questão é que ela faz com que olhemos para ela, através dos sons. Que percebamos que a pessoa que a possui é infinitamente mais importante do que os barulhos que ela provoca.

Brand deixa isso claro. Com o incentivo constante de sua mãe, ele transforma a síndrome em sua companheira constante e segue a vida junto com ela. Ao invés de parar de lutar pelos seus sonhos por causa dela. Essa é uma das mais belas lições. Seguir nosso caminho e buscar nossos sonhos quando todos os ventos estão à favor é mais fácil do que quando temos que honrar ainda mais a vida e lutar por ela.

Independente do barulho que façamos dentro de nós mesmos.

É seguir apesar de todos os inconvenientes e torcida contra. Seguir em frente sempre, porque os nossos defeitos ou dificuldades não nos definem. Eles são uma parte do nosso todo. E se soubermos aceitar quem somos, de verdade, já teremos a cura. A síndrome ainda não tem cura. Mas, pensei que talvez ela não tenha cura porque não é ela que tenha que ser curada. Talvez nós precisemos desta cura em algumas situações da vida.

A cura está em nós. No jeito que lidamos com aquilo que não esperamos ter que lidar ou viver. É parar de tratar como um problema e tratar com mais respeito à dignidade de quem tem esse destino. Lidar com mais gentileza, respeito e aceitação as dores que por vezes moram aqui e por vezes moram aí.

Brand tem uma linda filosofia de vida. Com amor, esperança e muita atitude. Ele tem na síndrome a sua mais dura professora, como ele mesmo diz. Ele busca realizar seu sonho de lecionar para crianças. Não são as crianças que o julgam com dureza. São os adultos. As crianças quando são respeitadas retribuem com respeito, aceitação e amor.

É uma verdadeira benção quando encontramos professores que tenham amor ao ensinar. Fazem uma diferença maravilhosa na vida das crianças que aprendem com afeto. E assim deixam os corações dos pais aliviados e felizes.

Aceitação. Aceitar de verdade, com o coração, aquilo que não podemos controlar em nós e muito menos nos outros. Aceitar aquilo que a síndrome escancara em nós e que, assustados, tentamos nos afastar daqueles que nos tiram da zona de conforto.

Aceitação, amor e respeito. Acredito que esta seja a cura possível, e que ajuda de verdade.

O filme é imperdível.

Abraço

Fernanda Nunes Gonçalves