O PRETO E BRANCO DA POESIA
Tenho observado que grande parte das pessoas que lêem e escrevem poesias também são admiradores dos nossos grandes poetas; também se encantam com a arte de famosos fotógrafos que expõem seu trabalho em vários paises.
Visitei, há pouco, uma exposição do fotógrafo Sebastião Salgado com seu trabalho sobre os sem-terra em belíssimos painéis em preto e branco e prestei atenção aos comentários das pessoas que a visitavam sobre a predileção por este ou aquele trabalho fotográfico; ora, como fotógrafo que sou e conhecedor das técnicas, inclusive de processos de laboratório, filmes, papéis, etc..., observei que o “gosto” individual por uma foto tem várias faces, pois cada um entende o que vê dentro do seu próprio complexo cultural sobre o assunto.
Ao apreciar a foto de uma mulher que pranteava o filho morto nos braços, pude ver o enquadramento perfeito da foto, a incidência da luz sobre o ‘subject, a nuance de luzes e sombras nos detalhes e os tons de cinza que amolgavam o rosto da mulher sofrida, sobressaindo a incrível nitidez permitida pela lente da câmera e a qualidade do filme de alta definição. Enfim, o momento capturado para sempre e único, emoldurado pela paralisação da expressão.
Ao meu lado um casal comentava a mesma foto; falavam da miséria do lugar e da tristeza que os pungia ao ver a mulher com a criança, da insensatez e da crueldade da nossa sociedade.
Duas senhoras bem vestidas e badalando brincos de ouro olharam a foto e afastaram-se rapidamente, como se a foto exalasse mau cheiro. Saí da exposição encantado com o trabalho, mas não encontrei amigos para trocar uma idéia.
Em casa, enquanto escrevia, fiquei pensando que a mesma coisa vai acontecer com algumas pessoas que lerem meus versos; algumas lerão cada verso com seu ritmo próprio, sua melodia,; conhecerão, intuitivamente ou pela técnica a metrificação e a fonética das rimas, a força de cada palavra, a vivacidade e a criatividade de cada expressão e gentilmente encontrarão a beleza e a razão do poema.
Por outro lado, algumas pessoas lerão com avidez e num só fôlego, sem sentir o sabor das palavras e onde o ritmo é indiferente; tanto faz se as vírgulas e os pontos estão nos lugares certos ou se existem; na verdade alguns leitores nem precisam desse tipo de ornamento gráfico tão necessário, pois nem têm fluidez na leitura nem conhecem detalhes do idioma. E alguns escritores dificultam mais ainda, pois a chamada “poesia livre” não exige(?) pontuação. Assim fica fácil para banalizar e “pornografar” nosso lindo idioma!
Tem ainda os que criticam o autor por não se sentirem bem com o tema exposto; Alguém me disse que não gostava de ler Castro Alves, o assunto é sempre escravidão. Outra me disse que os sonetos de Florbela Espanca a deixava deprimida! E Augusto dos Anjos usava termos que “ninguém entende”.
E essa é minha opinião a respeito dessas tão belas artes; quem tiver cultura para entendê-las, que maravilha!
Graças a Deus temos ainda autores que as fazem bem feitas; e temos pessoas que amam nosso tão belo idioma. Lastimável é que poucos tenham lido as obras de Camões, do padre Anchieta, Florbela Espanca, Auta de Sousa, Virgínia Victorino e tantos outros nomes de nossa poesia.
E pena que o grande fotógrafo Sebastião Salgado seja um desconhecido para muitos. Um dos maiores expoentes da fotografia-arte no mundo!