Eu, você e o afegão que perdeu o irmão atropelado.
Somos serem interligados, querendo ou não,
o que você pensa reverbera em mim,
o que você é faz um pouco de mim.
Somos farinhas do mesmo saco,
fagulha da mesma fogueira,
gota do mesmo mar.
Tentamos disfarçar nos colocando abaixo
ou acima dos outros a toda hora, pura balela.
Queremos fingir que somos únicos,
mas de fato somos meras engrenagens
da mesma máquina.
Se você trava, eu travo. Se você chora, eu choro. Se goza,
gozamos juntos. Se sonha, vou fazer parte deste sonho de alguma maneira..
Os bilhões de seres que povoam este chão
são de fato um ser só, imenso por certo,
mas um ser só.
Tudo o que rola no planeta faz parte de uma ação única,
coesa e orquestrada com maestria pra não desafinar
um milésimo de segundo que seja.
Tá bom, vai dizer: aquele moleque passando fome
num vilarejo miserável no interior de Zâmbia tem alguma
coisa a ver comigo? Quero que ele se dane...
Tem tudo a ver. Este moleque faz parte de mim,
de você, do teu vizinho do lado, do prefeito, do Trump,
do caminhoneiro que está parado no congestionamento
numa avenida da Venezuela, do médico que faz plantão no Einstein,
daquele feirante que vende batata em Budapeste, do chinês que planta
arroz perto do Shanghai pra sustentar sua família, da puta que roda bolsinha numa esquina de Moscou, do afegão que perdeu o irmão atropelado na frente da escola, do papa, do cara de 21 anos que teve a ideia de novo aplicativo e ganhou milhões de dólares do dia para a noite. De todos. Todos mesmo, sem qualquer exceção.
No dia que nos dermos conta disso, vamos nos tornar
seres humanos de fato. Até lá, vamos ter que conviver com todas as barbaridades e maluquices que fazemos a cada momento, sem cansar, sem desistir, sem entender de fato o porquê de tudo isso.
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