Criança levada? Eu?
Eu era criança, morava numa rua de terra na periferia da cidade. Essa rua era uma das entradas da cidade, portanto passava muitos carros e caminhões e como não era asfaltada, era uma poeira de fazer inveja.
Num dia de sábado, me lembro bem, no outro extremo da cidade iria acontecer uma corrida de cavalos. Era longe e eu não tinha coragem de ir à pé. Eu queria ver a tal corrida. Hoje confesso que não sei a causa, nunca gostei desse esporte.
Foi aí que veio a brilhante ideia, minha e de um amigo da mesma idade: perto de nossa casa parava muitos caminhões, a gente iria pegar uma rabeira.
E assim fizemos. Parou um caminhão de transportar bois, o motorista foi dar uma molhada na garganta no boteco que havia próximo. Ouvimos ele dizer que estava indo pra corrida. Foi a deixa. Ficamos eu, meu amigo, mais uns 2 aventureiros às espreitas, prontos pra dependurar na traseira do caminhão, quando ele desse partida. E assim fizemos.
Os dois aventureiros amarelaram e largaram logo a carona, antes do caminhão pegar velocidade. Eu mais meu amigo até que pensamos em desistir, mas já era tarde. A velocidade estava alta e soltar seria um tomo medonho, com consequências imprevisíveis.
Então, entre assustados e decididos, nos agarramos da melhor maneira, encontramos um apoio seguro e assim fomos. Andamos uns 10 quilômetros agarrados na traseira do caminhão, sem que o motorista percebesse. Estrada de terra, poeira solta. Dá pra imaginar o estado em que ficamos.
Ao chegar ao destino, o caminhão parou e descemos antes mesmo do motorista nos flagrar. Mas ele nos conhecia e estranhou nossa presença, pois nos viram no ponto de partida. E como estávamos quase irreconhecíveis pela poeira no corpo todo, foi fácil pra ele deduzir o que aconteceu.
Dificuldade maior foi escapar dele, que jurava que iria nos pegar e dar uma surra. Felizmente fomos mais rápidos que ele e tudo acabou bem.
Pena que a volta pra casa teve mesmo de ser à pé.
São confidências que meus pais jamais tomaram conhecimento.