SEM TIRAR NEM POR
Sempre me pareceu que algumas coisas, seres e situações se parecem com seus donos. Se é que situações podem pertencer a alguém. Pode ser um chapéu deformado à feição de seu proprietário. Ou um boné, para não ser anacrônico. Sapatos lasseados em conformidade à idiossincrasia dos pés do ser pisante. E aquele constragimento daquela reunião de amigos... pode ter certeza que é por causa do Fulano da Silva que resolveu comparecer para botar sal na sopa. E tem os cachorros que são a cara do dono, excetuando os cães libertários, anarquistas e sem dono que vivem espalhados pelas ruas. Sem tirar nem por: cara de um, focinho do outro. Se parecem até falando latim. Tenho quatro cachorros, mas tem o Nuno que é o mais meu dos quatro. Ele é inocente à beira da estultície. Ele abana o rabo até dormindo, e só não faço isso por não ter tal adorno corporal. E tem a cachorra da vizinha que morreu no mês passado. A cachorra, não a vizinha. Ela era ninfomaníaca, cada ano uma ninhada de quatro míseros herdeiros. Com a Darling (esse era o nome da infeliz e canina defunta) comendo grama pela raiz, a vizinha na falta da fiel cadela talvez se satisfaça com os atuais sete filhas e filhos. Mas no assanhamento em que ela se encontra acho que dessa espiga pode sair mais milho. Um requiem para sua amiga de quatro pernas dessa vida já despedida.