Quarto e retrato

Vazio, ele está vazio. Somente algumas presenças inertes perambulam por ali. Chicletes de melancia perdidos em algumas gavetas, vozes sem som acalentam o medo. Metade de uma barra de chocolate sobre o criado mudo, criado não tão mudo como tudo ali. O vento tenta abrir a cortina de aspirais chamados por ela de caracóis. Um celular chamando e chamando e ninguém para atender. De fundo, vindo de algum lugar distante ouve-se Cicero a cantar, para ela quem dera talvez!

A cada sinfonia morta, eis o tilintar do relógio, eis o tempo manifestando sua presença. Duas camas floridas, sobre elas eis bichinhos de pelúcia, dados por ex namorado, pela tia agora ausente.

Alguém entra pelo quarto, sente vontade de gritar... Queria falar algo para alguém.

Eis dois pares de olhos se encontrando, eis a invejável ideia na consciência.

Nessa vida, precisaremos de uma tecla "delete", queria deletar algo e algumas pessoas. Conta ela, mas parece não ouvir, aquele não é um mundo comum.

Aquela alma não é um mundo comum. Cheia de detalhes imperfeitos, cheia de detalhes desenhados.

Vai-se andando de um lado ao outro... O que irá responder?

"Quem sabe um dia talvez..." - ela escreve pela milésima vez.

Vai... Pelas correntes que levam isso a um outro alguém. Agora fecha os olhos esquece. Finge que nada aconteceu. E procura algo para fazer.

Eis as meia noite mais um dia de mistério findado pela claridade do dia que partiu sem avisar. Mais um dia de alguém que detesta perder, perder guerras ainda que essas não seja de verdade.

Por isso inventa final para tudo, e tudo para ela não é como realmente é. Pequenos enredos e grandes histórias.

Volta-se ao quarto, preciso de ar, abre as cortinas para respirar. deita-se. Mas não quer se deitar. Chá de camomila para acalmar, um coração em chamas quem sabe isso apague o fogo, que enfurece esse olhar. Vou te esperar aqui... Arrr não vai voltar!

Fecha a porta do quarto, procura pelas gavetas e não acha. Volta, irá reorganizar... Papéis, folhas com escritas estranhas, impressões de figuras medonhas (uma flor com nariz, um elefante sorrindo!).

Agora pode entrar e olhar. Mas não podes ficar. Vai para outro lugar, outro alguém pode te amar, mas hoje eu não posso.

Entre gavetas cheias de coisas antigas, esconde a foto de alguém... Xiii não pode ver, que esqueci de esquecer... Ops! Esconder! A porcaria de foto que ganhei de você... Vai leva contigo! Essas flores, esse desenho, essas coisas que você sabe fazer... Esse broche, essa maldita frase que aprendi com você "Tudo termina como a gente inicia!"...

Arruma-se e sai. Tranca a porta do quarto com a chave de chaveiro de bússola. Na porta eis uma mapa, para entrar é preciso entender que as linhas e as letras estão ao contrário, e que tudo termina como a gente começa.Vazio, ele está vazio. Somente algumas presenças inertes perambulam por ali. Chicletes de melancia...

Andrea A Gonçalves
Enviado por Andrea A Gonçalves em 08/07/2015
Reeditado em 10/08/2015
Código do texto: T5303970
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.