Um Romance em Preto e Branco

CENA 1:

Narrador: (FAZ COMO QUE PREPARANDO A GARGANTA, DE FORMA BEM GRAVE, MAS, QUANDO COMEÇA A FALAR, MUDA A VOZ PARA TOTALMENTE AGUDA, MUITO AGUDA MESMO)... A HISTÓRIA DE HOJE IRÁ MOSTRAR ATÉ ONDE UM ROMANCE PODE CHEGAR. UMA PAIXÃO SEM LIMITES ESTÁ PRESTES A ACONTECER, ERA DOMINGO, E FABIANA ACORDA LOGO AO AMANHECER...

Fabiana: AI, QUE DIA LINDO... QUE CÉU LINDO... QUE FLORES LINDAS, QUE PLATEIA... (MUDA UM POUCO A FEIÇÃO)... QUE DIA MAIS OU MENOS LINDO.

Sr. Moésio: (GRITANDO DO ANDAR DE BAIXO) FABIANA! DESÇA QUE O CAFÉ DA MANHÃ JÁ TÁ PRONTO!

Fabiana: (GRITANDO PARA O PAI) Tá bom, papai, espere só que eu me vista!

CENA 2:

Narrador: Fabiana era uma moça meiga, feliz, de bem com a vida. Era bem sensível, chorava por besteiras, e tinha uma mente gigantescamente idealizada, mas tinha um bom coração. Senhor Moésio, seu pai, era um homem bruto, rude, ignorante, impaciente, mas tinha um bom coração.

Fabiana: Ai, espero que hoje o café da manhã seja roscovo. Adoro roscovo.

Sr. Moésio: FABIANA, MINHA FIA, COMA TUDINHO, QUE É PRA VOCÊ NUM FICAR MAIS MAGRA AINDA, PORQUE Ô BIXINHA SECA...

Fabiana: Ai, papai, pare disso. Você quer destruir minha autoestima, né? Mas não vai conseguir... (TOCA MÚSICA SENSUAL, E FALA DANÇANDO SENSUALMENTE PRA PLATEIA) Eu sei que sou bonita, gostosa, saborosa e irresistível... (MÚSICA PARA) Essa comida está ótima, papai.

Sr. Moésio: (FICA OLHANDO PARA FABIANA COM CARA DE SÉRIO POR ALGUNS SEGUNDOS) Fabiana, minha fia, você é virg?

Fabiana: (RESPONDENDO BEM RÁPIDO APÓS A PERGUNTA DO PAI) Ai, papai! Claro que sou! Pare dessas bobagens. Agora vamos comer, que estou com uma fome danada.

CENA 3:

Fabiana: (ANDANDO PELO BOSQUE PERTO DE CASA) Eu amo tanto esse bosque, aqui me sinto bem... Eu aproveito para soltar alguns peidos, sem ninguém pra me atrapalhar.

José Abraão: (ENTRA NA CENA) Putaquepariu, man, mataram um boi e eu nem vi. Rapaz, alguém só pode ter peidado nesse bos... (TOCA MÚSICA ROMÂNTICA, FABIANA E JOSÉ ABRAÃO SE OLHAM COMO AMOR À PRIMEIRA VISTA)

Fabiana: (PARA PLATEIA) Nossa, eu acho que meu coração acaba de pulsar um pouco mais, pois creio ter visto um anjo que caiu do céu.

José Abraão: (PARA A PLATEIA) Carái, véi, que bixa gostosa da porra!

Fabiana: (PARA A PLATEIA) Se amor à primeira vista existe, creio que ele acaba de acontecer aqui, e agora.

José Abraão: (PARA A PLATEIA) A bixa tem uns peitão da porra!

Fabiana: (PARA A PLATEIA) Se eu pudesse crer que o amor é infinito, talvez toda a poesia que se encontra dentro de mim se fizesse real agora. Talvez tudo que já me falaram sobre um amor falido, se torne um amor sóbrio agora. Meus olhos nunca brilharam tanto, os pelos dos meus braços se arrepiaram, mesmo sem precisar de seu afago. E creio que, se um dia seu afago vier a existir, dar-te-ei toda a humildade que meu sorriso possa exaltar.

José Abraão: (PARA A PLATEIA, MEXE NAS CALÇAS COMO SE ESTIVESSE AJEITANDO A CUECA)... Chega tô de pau...

(LUZ DE FOCO EM JOSÉ ABRAÃO DESLIGA, CORTANDO A FALA DELE)

(VOLTAM PARA O MEIO DO PALCO)

José Abraão: Boa tarde, moça.

Fabiana: (ENVERGONHADA) Boa tarde, moço.

José Abraão: O que faz uma moça tão linda e sozinha num bosque?

Fabiana: (FAZ ESTRANHOS SONS DE VERGONHA) Ah, sei lá, só tô andano.

José Abraão: Hmm, entendo. Bom, meu nome é José Abraão, qual o seu?

Fabiana: Fabiana.

José Abraão: É, aqui é realmente bonito, me mudei pra cá esses dias e vim ver esse bosque de perto, porque, de onde eu moro, eu só avistava assim, bem de longe, sabe?

Fabiana: Hmm, e onde você está morando?

José Abraão: Ali na rua 42, perto da mercearia do Seu Bode, sabe?

Fabiana: Hmm, sei sim, já passei por lá algumas vezes.

José Abraão: Pois é.

Fabiana: Nossa! (OLHANDO O RELÓGIO) Nossa, já são doze horas, preciso ir pra casa.

José Abraão: Não, fique mais um pouco! (PEGA NO BRAÇO DE FABIANA)

Fabiana: (FAZ ESTRANHOS E EXAGERADOS SONS DE VERGONHA, SUSPIRA, RESPIRA FORTE, GEME ETC., E FALA GAGUEJANDO) É porque já tá na hora do almoço, e o meu pai é muito rígido.

José Abraão: Ah, tudo bem, então. Outra hora a gente se vê. (SOLTA O BRAÇO DE FABIANA)

Fabiana: Ok, até mais.

José Abraão: Até.

(JOSÉ ABRAÃO E FABIANA SAEM)

Narrador: José Abraão era um rapaz educado, mas desleixado. Gostava de conhecer pessoas novas, falava muitos palavrões, mas, além de ser a favor do que é certo, tinha um bom coração.

CENA 4:

José Abraão: Mãiê! Tem uma gata que mora aqui perto, ó, e eu já tô doidinho por ela.

(MATILDE ENTRA NA CENA)

Matilde: Se for comer avise antes.

José Abraão: Que é isso, mãe! Não é assim não.

Matilde: É verdade, se tem uma coisa que você não faz é "comer".

José Abraão: (UM POUCO IRRITADO) Mããe!

Matilde: Porque eu acho que o meu fi num gosta nem de beijar na boca!

José Abraão: (RESMUNGANDO) Mããe...

Matilde: (PRA PLATEIA) Esse menino aqui, eu botei umas 40 camisinha de posto no guarda-roupa dele, se você abrir o guarda-roupa dele depois de dois mêis, só vai encontrar 38 e as duas usada foru de punheta.

José Abraão: (IRRITADO) MÃE!

Matilde: (PARA A PLATEIA) Eu fico imaginando se eu ainda vou ser vó, sabe?

José Abraão: (SONS DE RESMUNGOS)

Matilde: (PARA A PLATEIA) Até se fosse gay eu deixava, pelo menos tá fazendo alguma coisa.

José Abraão: (GRITANDO ALTO) MÃE!

Matilde: (PARA A PLATEIA) Quando esse menino fez 12 anos, eu comecei a achar que ele era assexuado. As menina só faltava tacar a bunda na cara dele e ele nada.

José Abraão: Mãe! Chega! Eu vou pro meu quarto!

Matilde: (FICA ESPANANDO UM POUCO A JANELA E DEPOIS LEVANTA UM POUCO A SAIA E OLHA PRA CALCINHA)... Se bem que aqui já é criando teia também.

Narrador: Matilde era uma senhora sem muita expectativas de vida, ficava em casa o dia todo espanando, espanando, espanando, mas amava muito o seu filho José Abraão. Ela era separada há mais de 10 anos, mas tinha um bom coração.

CENA 5:

Fabiana: Papai, papai! Conheci um menino tão lindo, ele é tão educado, ele é meigo, ele é...

(SR. MOÉSIO FICA OLHANDO SÉRIO PARA FABIANA POR UM TEMPO)

Sr. Moésio: Fabiana, eu num quero saber de menino andando com você aqui nessas banda, não. Você sabe que idade você tem, minha filha?

Fabiana: Papai, eu já tenho quinze anos, tem amiga minha de quinze anos sendo avó.

Sr. Moésio: (GRITANDO) OXE! E num é porque suas amigas tão virando avó que você vai virar também! Num quero saber de história de menino! Você se vigie, se policie, se avalie!

Fabiana: (PEQUENA PAUSA)... Tá bom, papai, tá bom...

Narrador: Sr. Moésio mal sabia, mas Fabiana nem ligou pro que o pai falou. Apesar de ser muito obediente, Fabiana estava muito apaixonada, e passaria por qualquer coisa pra conseguir uma paixão de verão com José Abraão.

(CENA COM ALGUÉM CANTANDO DE LADO, ENQUANTO PASSA-SE CENA DE FABIANA ANDANDO NO QUARTO, SOZINHA)

(CENA COM ALGUÉM CANTANDO DE LADO, ENQUANTO PASSA-SE CENA DE JOSÉ ABRAÃO ANDANDO NO QUARTO, SOZINHO)

(ABRAÃO FICA CONTRADIZENDO ALGUMAS PARTES DA MÚSICA, FALANDO)

(ABRAÃO FICA FAZENDO SONS DE RAP EM DETERMINADA PARTE DA MÚSICA, E FABIANA DANÇA BREAK E AFINS)

(SR. MOÉSIO INTERROMPE A MÚSICA COM UM GRITO LÁ DE BAIXO)

Sr. Moésio: FABIANA! (PAUSA) DESÇA PRO JANTAR!

Fabiana: (GRITANDO) Tá bom, papai...

(MÚSICA CONTINUA, ENQUANTO ELA VAI SAINDO DO QUARTO)

CENA 6:

(FABIANA E SR. MOÉSIO ESTÃO JANTANDO EM SILÊNCIO, POR UM BOM TEMPO)

Sr. Moésio: Filha...

(FABIANA, OLHANDO PRA BAIXO, NÃO RESPONDE)

Sr. Moésio: É... filha?

(FABIANA CONTINUA SEM RESPONDER)

Sr. Moésio: (GRITANDO) Filha!

Fabiana: Pera aí, papai, tô no whatssap...

Sr. Moésio: (IRRITADO) Ora, largue esse celular! Não quero que fique no celular enquanto estamos jantando, entendeu?

(FABIANA CONTINUA A OLHAR PRO CELULAR)

Sr. Moésio: Fabiana, você tá brincando com fo...

(FABIANA INTERROMPE COM UM GRITINHO)

Fabiana: GEEENTE!... Combinação do Tinder.

Sr. Moésio: (GRITANDO ALTO) FABIANA! LARGUE ESSE CELULAR AGORA! OU ENTÃO VAI FICAR SEM CELULAR POR UMA SEMANA!

(FABIANA JOGA O CELULAR PRO, NO CHÃO)

Fabiana: Já é, já foi, uma semana é putaria.

(SR. MOÉSIO FICA OLHANDO PRA ELA POR UM TEMPO, ATÉ ENTÃO QUE FALA)

Sr. Moésio: Fabiana, sobre essa história desse tal de Zé Abraão.

Fabiana: JOSÉ Abraão, pai. (EXPLICANDO)

Sr. Moésio: (PAUSA, ENQUANTO OLHA PRA FABIANA) Oooxe! A abreviação de José é Zé.

Fabiana: Sim, papai, mas é José Abraão.

Sr. Moésio: Mas eu num acredito que você tá vindo me corrigir. Eu falo Zé porque eu posso falar Zé e vou continuar falando Zé.

Fabiana: (ASSUSTADA) Tá bom, papai, continue.

Sr. Moésio: Pois bem... Essa história sobre esse menino... Minha filha... eu sei que você é jovem e tá com os hormônios à flor da pele, eu sei que você tá em época de mandar nudes, mas, minha filha, eu vou ser franco e curto com você: não quero história de você tá se encontrando com esse rapaz, não. Deixe você ficar um pouco mais velha, aí sim eu deixo você se atracar com algum macho (LEVANTANDO O DEDO) DE BOA ÍNDOLE por aí.

Fabiana: Mas, papai...

Sr. Moésio: Nada de mas. Eu nem conheço esse Zé Abra...

Fabiana: José. (CORRIGINDO)

Sr. Moésio: (GRITANDO) AAAAAAAAAAAAH! QUE SEJA! ZÉ, JOSÉ! SUBA! E NÃO QUERO MAIS SABER DESSA HISTÓRIA!

(FABIANA CORRE PARA CIMA DE FORMA ESTRANHA)

CENA 7:

(ENTRA PERSONAGEM INDEFINIDO, VAI ATÉ O CENTRO DO PALCO E COMEÇA A CANTAR)

Cantador 1: Momento intervalo da peça!

(PERSONAGEM INDEFINIDO ENTRA E CANTADOR 1 SAI)

Personagem indefinido: (TÍMIDO) Bom, eu vou contar uma história. Quando eu tinha 15 anos, eu fiz amor e...

(CANTADOR 1 E CANTADOR 2 APARECEM CANTANDO, UM DE CADA LADO DO PALCO, BEM DO LADO DA COXIA)

Cantador 1 e 2: Tirou a virgindade!

(PERSONAGEM INDEFINIDO OLHA DE FORMA ESTRANHA)

Personagem indefinido: Que porra é essa?... Bom, aí o tempo se passou, só que essa menina não quis me beijar, então eu ainda era BV. Aí com 22 anos anos eu finalmente fiquei com uma menina, ela...

(CANTADOR 1 E CANTADOR 2 APARECEM CANTANDO, UM DE CADA LADO DO PALCO, BEM DO LADO DA COXIA, E, NO FINAL DA CANTORIA, UM DELES CONTINUA, EXAGERANDO)

Cantador 1 e 2: Tirou o BV!

(PERSONAGEM INDEFINIDO OLHA ESTRANHO PARA OS LADOS)

Personagem indefinido: Aí essa menina que tirou meu BV se apaixonou por mim, aí a gente acabou se casando...

(CANTADOR 1 E CANTADOR 2 APARECEM CANTANDO, UM DE CADA LADO DO PALCO, BEM DO LADO DA COXIA)

Cantador 1 e 2: Se fudeu!

Personagem indefinido: Daí com 7 meses de casamento a gente se divorciou...

(CANTADOR 1 E CANTADOR 2 APARECEM CANTANDO, UM DE CADA LADO DO PALCO, BEM DO LADO DA COXIA)

Cantador 1 e 2: Graças a Deus!

Personagem indefinido: (PAUSA) É, é só isso.

(LUZ DE FOCO SE APAGA. SE NÃO BATEREM PALMA, LUZ VOLTA)

Personagem indefinido: BATE PALMA, PORRA!

(LUZ APAGA NOVAMENTE)

CENA 8:

Narrador: Os dias se passavam, e Fabiana e José Abraão começaram a se ver mais, e mais, e mais. (JOSÉ ABRAÃO E FABIANA FICAM ENCENANDO OS ENCONTROS NO BOSQUE, NO CENTRO DO PALCO, ATRÁS DO NARRADOR) Todo dia eles iam no mesmo bosque, e começavam a se conhecer melhor; saber a cor preferida...

José Abraão: Ah, eu gosto de verde, porque me lembra muito a natureza, e a sua, qual é?

Fabiana: Azul.

José Abraão: Hmm... por quê?

Fabiana: (FALA DE FORMA SAFADINHA E TÍMIDA) Porque azul é a cor mais quente.

Narrador: E eles realmente se viam todo santo dia, mas escondido, pois o Sr. Moésio não podia saber. E, de tanto de ver, e conversar, e começar a descobrir mais sobre o outro, aquela paixão foi aumentando, aumentando, aumentando, aumentando, aumentando, (JOSÉ ABRAÃO E FABIANA FICAM OLHANDO PARA O NARRADOR) aumentando, aumentando...

(JOSÉ ABRAÃO VAI ATÉ O NARRADOR E BATE NAS COSTAS DELE)

José Abraão: Deu "tilt", viado?

(NARRADOR PREPARA A GARGANTA E VOLTA A FALAR)

Narrador: Aumentando, aumentando, até que essa paixão repentina de verão foi se tornando... amor...

(NARRADOR SAI)

(JOSÉ ABRAÃO E FABIANA SENTADOS UM DO LADO DO OUTRO, OLHANDO PARA O HORIZONTE/NADA/CÉU)

José Abraão: Ô... Fabiana.

Fabiana: (COM UM JEITO ALEGRE E RÁPIDO) Sim?

José Abraão: Eu preciso te contar uma coisa...

Fabiana: (CHEGANDO MAIS PERTO E MAIS FELIZ E ANSIOSA) Sim?...

José Abraão: Eu tava lembrando do primeiro dia que a gente se viu, sabe?

Fabiana: (DA MESMA FORMA) AAWN...

José Abraão: Daí eu queria te fazer uma pergunta logo de uma vez...

Fabiana: (DA MESMA FORMA) Sim?...

José Abraão: Aquele de peido que senti, foi tu que soltou, foi?

Fabiana: (DESMORONADA DO SORRISO, ANSIEDADE ETC., E COM CARA DE TÉDIO E AFINS) Foi, Abraão, foi...

(FABIANA MUDA O ROSTO DE TÉDIO E AFINS PARA TRISTEZA, E ABRAÃO PERCEBE)

José Abraão: Mas eu também quero contar outra coisa...

Fabiana: (DAQUELA MESMA FORMA) Sim?...

José Abraão: É...

Fabiana: (CHEGANDO MAIS PERTO DE ABRAÃO) Sim?...

(LUZ COMEÇA A SE APAGAR DEVAGAR)

José Abraão: Eu acho que tô apaixonado por você...

(OS DOIS VÃO CHEGANDO CADA VEZ MAIS PERTO, COM OS LÁBIOS QUASE ENCOSTANDO, ATÉ QUE APARECE UMA PERSONAGEM NOVA)

Lauanda: AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAI, QUE FOFO, AMIII...

(A CENA SE CONGELA, A LUZ FICA MAIS FRACA E O NARRADOR ENTRA)

Narrador: Lauanda era uma (FAZ OS DEDOS COMO ASPAS) "moça", muito hiperativa e elétrica. Era a melhor amiga de Fabiana, contava tudo pra ela, assim como Fabiana também contava para Lauanda. Lauanda era bem contagiante, alegre, incomodante, gasguita, mas tinha um bom coração.

(CENA E LUZ VOLTAM AO NORMAL)

Lauanda: ...ga. Eu não acredito que você tá de namorico aqui, não, não, não, não, não, não não. (LAUANDA VAI CHEGANDO PERTO DE ABRAÃO) Ai, mas ele é um gato, né? Qual sua graça?

José Abraão: (DE FORMA LEIGA E DESENTENDIDA) Graça? Não, num tô achando nenhuma graça, não...

Lauanda: (RIR EUFORICAMENTE DE UMA FORMA EXTRAVAGANTE) Não, meu bem, eu quero saber seu nome.

José Abraão: Aaah! Meu nome é José Abraão, e o seu?

Lauanda: Meu nome é Lauanda Carmen Vindel Ketherine (Katarê). A mais bela, fina, pura e meiga moça de Fortaleza... Especialmente do José Walter.

José Abraão: É... Como é, esse Katerei?

Lauanda: Katherine (Katerê).

José Abraão: Aaah...

Lauanda: Meu bem, dá licença só um minutinho, tá? Vou falar com a Fabi rapidinho aqui.

(LAUANDA E FABIANA VÃO ATÉ UMA PARTE DO PALCO E FICAM COCHICHANDO BEM RÁPIDO COISA DO TIPO "AI, EU SEI, ELE É LINDO, NÃO, AI, MAS... EU SEI, EU SEI...")

Fabiana: Tá bom, então...

Lauanda: É... Pessoal, vou ter que ir pra casa, tá? Depois nos falamos, tchau, beijos...

Fabiana e José Abraão: Tchau...

(CENA FICA UM POUCO EM SILÊNCIO)

Fabiana: É... Abraão, preciso ir pra casa, tá? Senão meu pai vai me matar. Até mais.

José Abraão: Tudo bem, até mais, tchau.

CENA 9:

Narrador: Estava tudo correndo tão bem... Tudo perfeitamente bem. Mas aconteceu algo...

Sr. Moésio: Fabiana, venha aqui, quero conversar com você.

Fabiana: (UM POUCO RECEOSA/ASSUSTADA) Sim, papai?...

Sr. Moésio: Sente.

(FABIANA SENTA)

Sr. Moésio: Eu fiquei sabendo que você andou encontrando aquele rapaz de novo...

Fabiana: Mas... Eu aposto que foi aquela fofoqueira da Dona Jurema.

(FAZ-SE SOM DE VOLTANDO A ALGUMA CENA PASSADA)

Dona Jurema: Meu filho, se eu fosse você ficaria de olho naquela sua fia, prusquê ela tá se encontrando todo dia com um rapaz, um tal de... Zé Abraão...

Sr. Moésio: (CORRIGINDO) JOSÉ Abraão.

Dona Jurema: Oxe, mas Zé é abreviação de José.

Sr. Moésio: Mas é José.

Dona Jurema: Que seja... Ela anda se encontrando com ele todo dia por lá, então eu acho melhor o senhor abrir o olho. Esses jovens de hoje em dia não têm noção das coisa, não. Ave Maria... Sabe-se lá o que esses meninos andam fazendo por aí, só Deus sabe.

(SR. MOÉSIO COMEÇA A SAIR DE CENA, ENQUANTO DONA JUREMA CONTINUA FALANDO)

Dona Jurema: Na minha época num tinha isso, pra tocar na mão tinha um uns critério tudo. Hoje em dia é só tacar o dedo nesses jovens que eles já tão sentindo orgasmo. Pra engravidar era lá pelos 25 a 30, agora com 10 ano de idade as menina tão virando é avó, e o pior é que...

(DONA JUREMA PERCEBE QUE SR. MOÉSIO NÃO TÁ MAIS ALI)

(DONA JUREMA VAI SAINDO DA CENA, E, QUANDO ESTÁ NO FINAL DO PALCO, QUASE SAINDO, GRITA)

Dona Jurema: Viado!

(CENA VOLTA AO PRESENTE)

Sr. Moésio: Não importa se foi ela ou não, Fabiana, o que importa agora é que você pela primeira vez desobedeceu minhas ordens! E é por isso mesmo que você vai ficar de castigo, TRANCADA no quarto!

(SOM DE "TAM", COMO DE TENSÃO)

Fabiana: Não!

Sr. Moésio: E digo mais! Vou ficar com a chave e só entrarei no seu quarto para levar comida!

(MESMO SOM)

Fabiana: Nãão!

Sr Moésio: SEM FACEBOOK!

(MESMO SOM)

Fabiana: Nãão!

Sr. Moésio: Sem Whatssap!

(MESMO SOM)

Fabiana: NÃO!

Sr. Moésio: Sem Tinder!

(MESMO SOM)

Sr. Moésio: Badoo!

(MESMO SOM)

Sr. Moésio: Snapchat!

(MESMO SOM)

Sr. Moésio: Sem CDs do One Direction!

(MESMO SOM)

Fabiana: NÃO!!

Sr. Moésio: E digo mais!

(MESMO SOM)

Sr. Moésio: A Dilma vai continuar presidente por muito tempo!

(MESMO SOM)

Fabiana: NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO!!!!!!

(LUZES SE APAGAM)

CENA 10:

Narrador: José Abraão estava totalmente desamparado, pois... (FAZ COM A MÃO, MOSTRANDO A CENA DO LADO DO PALCO)

(LUZES SE ACENDEM)

José Abraão: (PROCURANDO FABIANA) Fabiana?... Fabiana?... Hm... Vou ficar por aqui, acho que ela aparecerá em breve.

(LUZES FICAM FRACAS)

Narrador: Não... Mas Fabiana não apareceu.

(VOLTA A TOCAR A MÚSICA DA CENA 5, E JOSÉ ABRAÃO FICA SENTADO NO CHÃO, ESPERANDO FABIANA, TRISTE, A PROCURANDO)

Narrador: José Abraão volta no outro dia, na esperança de vê-la, mas, após isso...

José Abraão: Meu Deus! Cadê a Fabiana? Isso já tá ficando estranho demais...

Narrador: Então José Abraão começa a procurar a casa de Fabiana. Ele não fazia ideia de onde ela morava, mas uma coisa aconteceu...

Lauanda: AAAAAAAAAI, QUE TUUUUUUUUDOOOO!

(JOSÉ ABRAÃO TOMA UM SUSTO)

Lauanda: Bixa, tu tá aqui, é? Ei, me diz uma coisa, tu sabe por onde anda a Fabi? Eu nunca mais vi ela por aqui.

José Abraão: Então... Eu também estranhei isso, e é por isso mesmo que eu estava querendo saber onde é a casa dela, pra ir lá vê-la.

Lauanda: Bixa, só seguir aqui em frente. Tem uma rua ali do lado da praça, tá vendo?

José Abraão: Tô.

(LAUANDA APONTANDO PRA ESSE LUGAR E JOSÉ ABRAÃO SE ESFORÇANDO PRA VER, FECHANDO UM POUCO OS OLHOS)

Lauanda: Pois é, não é lá.

(JOSÉ ABRAÃO OLHA COM CARA DE "¬¬")

Lauanda: Mas, mulher, na outra, do lado direito dessa, bem no começo tu vai ver uma casa amarela, a única que tem lá. O número é 87.

José Abraão: Ah, ok, obrigado, tá?!

(JOSÉ ABRAÃO SAI MEIO APRESSADO ATÉ LÁ)

(LUZES SE APAGAM)

CENA 11:

(ENTRA PERSONAGEM INDEFINIDO, VAI ATÉ O CENTRO DO PALCO E COMEÇA A CANTAR)

Cantador 1: Momento intervalo da peça!

(PERSONAGEM INDEFINIDO ENTRA E CANTADOR 1 SAI)

(ENTRA UM PERSONAGEM RINDO, FALANDO COISAS PARA A DIREÇÃO DE ONDE ELE VEIO, E QUANDO CHEGA AO CENTRO DO PALCO COMEÇA A OLHAR A PLATEIA COM O SORRISO DESABANDO OU ALGO ASSIM)

Personagem indefinido: Opa! Boa noite. (SE A PLATEIA NÃO RESPONDER, ELE CONTINUA A ENCARANDO E DEPOIS FALA O MESMO, PORÉM MAIS ENFATIZADO) Boa noite. Bom, pessoal, já que vocês estão aqui, eu vou desabafar com vocês. É... eu tenho uma mulher, e já faz algumas semanas que ela está meio... chucrute, sabe? Noite passada eu estava dormindo, né, do lado dela, daí eu acordei, olhei pra ela e comecei, né... "Ô... Marisbel... (...) Marisbel?", e ela não respondia, sabe? Mas daí eu insisti... "Marisbeeel... (...) Ei... Marisbel...", "QUE É, PORRA?! TU JÁ QUÉ TREPÁ?!" "Ah... Não, amor... é que eu acordei, e tal, e tô sem sono, sabe?" (FICA ENCARANDO COM CARA DE SAFADINHO). "Ô, Marisbel, só uma, vai?", "SÓ UMA O CARÁI. TU TÁ FICANDO DOIDO? EU TÔ MORRENDO DE DOR DE CABEÇA E SÃO 4H DA MADRUGADA, DANIEL!", "Ah, mas...", "MAS O QUÊ?!", "Ah, eu só achei, né, que, nhá, e tal, cê tava com mó cara de safadinha aí", "(FICA ENCARANDO COM CARA DE RAIVA) CARA DE SAFADINHA, DANIEL? EU TAVA DORMINDO!", "Oxe, então tu tava sonhando com outro", "ERA BOM É QUE EU TIVESSE MESMO, MAS NÃO, DANIEL, EU TAVA SONHANDO COM UMA NOITE TRANQUILA, DE SONO, SEM NINGUÉM PRA ME CHAMAR PRA TREPAR 4 HORAS DA MADRUGADA, É POR ISSO QUE EU TAVA COM ESSA CARA DE PRAZER!" Aí, eu já comecei a entender, sabe... aí, né, cada um tem seu tempo, seu dia, e tal. Aí eu fui dormir... (FAZ COMO SE TIVESSE DORMINDO E FICA POR UM BOM TEMPO, ATÉ ACORDAR E FAZER COMO SE TIVESSE CUTUCANDO A MARISBEL DE NOVO) "Ô, Marisbel..." (LUZES SE APAGAM)

(CANTORIA DE FUNDO, ENQUANTO TUDO APAGADO: "FINAL DE INTERVAAAAAALOOOOOOOO")

CENA 12:

Narrador: Enquanto isso, José Abraão comia Fabiana, e a casa de Fabiana procurava algumas maçãs. (NARRADOR FICA SORRINDO POR UNS SEGUNDOS, PERCEBE QUE ERROU, E CORRIGE) Aliás, enquanto isso, Fabiana comia sua casa, e José Abraão procurava algumas maçãs... (MESMA COISA) Digo, enquanto isso, algumas maçãs comia José Abraão, e a casa de Fabiana procurava Fabiana... (MESMA COISA, MAS COM ALGUMAS DIFERENÇAS) É, isso, sim! ENQUANTO ISSO... Fabiana comia algumas maçãs, e José Abraão procurava a casa de Fabiana.

José Abraão: Ah! Achei! Acho que é essa mesmo... Amarela, número 87. Ok... agora... hm... Certo, se tiver acontecido alguma, ooou mesmo sem ter acontecido, o pai dela provavelmente não pode me ver de jeito nenhum. Hm... Aquela deve ser a janela dela.

(ABRAÃO PEGA UMA PEDRINHA E JOGA NA JANELA DE FABIANA, E FAZ UM SOM DE PADRINHA NA JANELA, MAS FABIANA NÃO APARECE, ELE JOGA OUTRA, E DEPOIS OUTRA, ATÉ QUE PEGA UMA PEDRA MAIOR, JOGA, E FAZ UM SOM DE VIDRO QUEBRANDO)

(FABIANA SAINDO NA JANELA)

Fabiana: TU TÁ DOIDO, FI DE RAPARIGA? JOGA A MÃE, VIADO! PUTA MERDA, TU QUEBROU MINHA JANELA! TU QUEBROU - MINHA JANELA!

José Abraão: Foi mal, foi mal, foi mal! Desculpa, foi sem querer, não foi a intenção!

Fabiana: Olha... tu tem sorte que já estouraram uma rasga lata debaixo da cama do meu pai e ele não escutou, ele tem o sono muuuito forte. Mas se ele acordar por falta de sono mesmo, e ele te pegar aqui, ELE TE MATA!

José Abraão: Sim, sim, mas, mas... Você não pode sair?

Fabiana: Ai, Abraão, ele me pôs de castigo, não tem como eu sair, ele trancou a porta.

José Abraão: E por aí?

Fabiana: (ENCARANDO) Macho, isso aqui num é conto de fadas, não. Olha o tamanho do meu cabelo, sou Rapunzel, não.

José Abraão: Eu sei, eu sei! Mas... num tem um lençol ou algo assim aí, não?

Fabiana: Olha, eu vou ver aqui o que eu posso fazer. (FICA PENSANDO) Ah! Já sei! Pera.