Logo ali na frente, em 2017, estaremos comemorando os 100 anos do nascimento de Celso Cunha, lenda da língua portuguesa, um dos nossos mais renomados gramáticos, revisor e redator da nossa atual Constituição. Quando atentei para a data, fui lançado a uma lembrança remota, perdida na longínqua década de 80.
Ainda aluno do curso de Letras na UFRJ, tentei comparecer a um evento simbólico organizado pela faculdade: a última aula do professor Celso Cunha. Insisto em dizer que tentei porque o auditório transbordava de gente e eu me misturei entre as últimas cabeças que se esforçavam para enxergar a estrela da festa. Mais do que uma visão privilegiada, ficou o orgulho de dizer que estive lá.
Dias depois da aula de despedida, tive provas de como o destino é matreiro. Sempre fui um candidato a bibliófilo, um rato de sebos e livrarias. Numa dessas minhas autópsias em estantes, num fim de tarde em que me internei num sebo da Tijuca (talvez, o único que existisse no bairro naquela época), degustei do melhor tempero da vida: o inesperado.
O tal sebo ficava na rua Haddock Lobo, próximo da Alzira Brandão, hoje conhecida internacionalmente como Alzirão. Eu fuçava as prateleiras da seção de filologia quando esbarrei num senhor alto, magro e com óculos pretos de armação grossa. Apesar do esbarrão ter sido por distração minha, ele se antecipou em pedir desculpas. No mesmo instante, a dona do sebo, uma senhora simpática e comunicativa, chegou entre nós cheia de rapapés.
- Professor Celso, que bom o ver aqui – reverenciou.
O senhor ao meu lado era o próprio Celso Cunha. Fiquei cataplético por uns segundos, sem entender o porquê da presença daquele mito numa livraria de um bairro provinciano, mas tomei coragem e decidi cumprimentá-lo.
- Professor Celso, sou aluno da faculdade de Letras e assisti sua última aula no auditório. Aprendi muito com o senhor.
- Dispense o título de professor. Qual seu nome? – Ele me perguntou.
- Alexandre.
- Alexandre, você foi um dos que me ensinaram a continuar aprendendo. Obrigado.
Dito isso, ele me estendeu a mão num aperto cordial e deixou gravada em minha memória uma página que nunca se desbotou.
Ainda aluno do curso de Letras na UFRJ, tentei comparecer a um evento simbólico organizado pela faculdade: a última aula do professor Celso Cunha. Insisto em dizer que tentei porque o auditório transbordava de gente e eu me misturei entre as últimas cabeças que se esforçavam para enxergar a estrela da festa. Mais do que uma visão privilegiada, ficou o orgulho de dizer que estive lá.
Dias depois da aula de despedida, tive provas de como o destino é matreiro. Sempre fui um candidato a bibliófilo, um rato de sebos e livrarias. Numa dessas minhas autópsias em estantes, num fim de tarde em que me internei num sebo da Tijuca (talvez, o único que existisse no bairro naquela época), degustei do melhor tempero da vida: o inesperado.
O tal sebo ficava na rua Haddock Lobo, próximo da Alzira Brandão, hoje conhecida internacionalmente como Alzirão. Eu fuçava as prateleiras da seção de filologia quando esbarrei num senhor alto, magro e com óculos pretos de armação grossa. Apesar do esbarrão ter sido por distração minha, ele se antecipou em pedir desculpas. No mesmo instante, a dona do sebo, uma senhora simpática e comunicativa, chegou entre nós cheia de rapapés.
- Professor Celso, que bom o ver aqui – reverenciou.
O senhor ao meu lado era o próprio Celso Cunha. Fiquei cataplético por uns segundos, sem entender o porquê da presença daquele mito numa livraria de um bairro provinciano, mas tomei coragem e decidi cumprimentá-lo.
- Professor Celso, sou aluno da faculdade de Letras e assisti sua última aula no auditório. Aprendi muito com o senhor.
- Dispense o título de professor. Qual seu nome? – Ele me perguntou.
- Alexandre.
- Alexandre, você foi um dos que me ensinaram a continuar aprendendo. Obrigado.
Dito isso, ele me estendeu a mão num aperto cordial e deixou gravada em minha memória uma página que nunca se desbotou.