Quando conheci Paulo Leminski

Paulo Leminski. Quando eu ouvia falar nesse nome, me dava asco. Eu pensava: "Ah, mais um desses poetas chatos que as gordonas virgens adoram. Paulo Leminski, o grande poeta da bela cidade de Curitiba. Ah se foder..."

Primeiramente, me desculpem as gordas, não tenho nada contra vocês.

Segundamente, estou eu, cá, em minha missão proposta a mim mesmo de ler autores brasileiros.

Adoro ler, mas sempre tive certo preconceito e raiva dos escritores brasileiros, principalmente porque me obrigavam a ler livros complicadíssimos dos grandes escritores brasileiros na época do vestibular.

E é difícil se recuperar deste trauma de ser obrigado a ler algo que você não quer e que não entende.

Pois bem, cá estou eu, aos 27 anos, tentando me recuperar desse trauma, e me deparo com um livro de textos diversos de Paulo Leminski, que me foi doado por uma professora de inglês que nem conheço.

Aconteceu de eu acabar indo a casa dela um certo dia, interessado em saber quanto custava o carro Fiat 147 que ficava estacionado em frente a sua casa. O carro pertencia ao seu marido, aposentado da prefeitura de Marechal Rondon. Conversei com ele, e ele me convidou a entrar em sua casa para mostrar outro Fiat 147 (muito mais bonito que aquele, e que não estava a venda). Lá dentro da casa, percebi que o cara colecionava muitas coisas antigas, entre livros, rádios e bicicletas. O cara tinha um museu particular dentro de casa!!! Deus sabe como eu amo essas coisas.

Pois subindo ao segundo andar de sua casa, ele me mostra a sala de estar, que vêm a ser a parte organizada e bonita do seu “museu”. Lá havia também um armário e uma prateleira cheia de livros velhos. Fui lá para ver se encontrara alguma raridade, e então conheci a sua mulher, a professora de inglês (de uma escola pública), e ela acabou me doando vários livros daquela estante, entre eles, o livro do Paulo Leminski. As páginas do livro eram impressas naquelas folhas de jornal velhas e nojentas, que parecem que vão rasgar ou virar pó ao menor contato. E apesar disso...

Pásmem!

A droga da porcaria do livro era bom!

Porra!

Que escritor fantástico!

Fiquei tão empolgado com as primeiras páginas do livro que vim rápido aqui para o notebook escrever este texto, e redigir o texto abaixo, de autoria dele, para que vocês vejam como ele realmente era um bom escritor.

"Minifesto 2"

A literatura de um país pobre

não pode ser pobre de ideias.

Pobre da arte de um país

pobre de ideias.

Pobre da ciência de um país

pobre de ideias.

Num país pobre,

não se pode desprezar

Nenhum repertório.

Muito menos

os repertórios mais sofisticados.

Os mais complexos.

Os mais difíceis de aceitar à primeira vista.

Lembrem-se de Santos Dumont.

Sempre haverá quem diga

que num país pobre

não se pode ter energia nuclear

antes de resolver o problema

da merenda escolar.

Errado.

Num país pobre,

movido a carro de boi,

é preciso por o carro na frente dos bois."

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06\07\2015

Abençoado seja Paulo Leminksi por me livrar das amarras do estrangeirismo literário. Estive preso por séculos de literatura clássica.

Sim, busquei por anos a fio, em escritores franceses, ingleses, americanos, japoneses, alemães e russos as grandes obras da literatura, para me inspirar, para me entreter, para saciar a minha interminável fome de cultura e literatura.

E então, na porta de casa encontrei o famoso Leminski, me livrando da corrente bukowskiana a qual eu mesmo me prendi, que fazia com que eu exigisse de mim mesmo um crescente realismo e simplismo em meus textos. Bom, fodasse o simplismo agora! Quem quiser me ler e compreender de agora em diante, que o faça com a ajuda de um dicionário! Escreverei palavras difíceis, como aquém, aqueduto, açafrão, atabalhoado, chinfrim, cacofonia, cacografismo, confeccionador, confucionismo!

Foda-se!