Vela por nós...

O espaço é exíguo, que dê talvez uns dois por seis. Ou será que exagero? Mas lá, à luz de Vela, as cabeças se iluminam. E o nosso barbeiro, sem barbeiragens é apenas mais um, da improvável dúzia de Figaros ativos na Velha Serrana.

Dos tempos do Waldemar Mamede, do Zé do Vô, do Zico e, se puxar pela memória mais remota, até do Geraldo Lemos, estou hoje um tanto desatualizado quanto ao número de barbeiros na nossa cidade. A rigor, na infância era papai, com a sua Haarschneidemaschine manual, que fazia as tonsuras mensais minhas e dos manos menos. Hora temida aquela, não pelo escalpelo que quase se materializava sob a mão firme do Velho, que tudo desbastava e um só topetinho deixava. Não, não. Era mesmo pela impaciência de ficar quieto por uma quinzena interminável de minutos. As meninas é que tinham sorte, ninguém mexia nos cabelos delas...

Mas voltemos ao Vela, cujo nome, se me não falha a memória, é Édson.

Édson assim, como aquele divino futebolista que ilustra a parede - de todo quase desnuda - de sua barbearia, na mais famosa companhia: Gilmar, Lima, Mauro, Zito, Dalmo e Calvet, Mengálvio, Dorval, Coutinho e Pepe...Declinei na ordem certa, saudosista leitor? Pode fazer variações aí nessa escalação, que é dos anos dourados do Peixe da Baixada Santista, que fazê-las não há que não resista...E só a figura do Rei é que não sai da pista.

E, peça a peça, o Vela segue fazendo cabeças a beça. Mais central dos barbeiros da cidade, sua barbearia é visitada bem mais do que pela clientela usual da tosquia: até por musas que vêm tentar a sorte - pena que não o corte - com sua loteria. Uma folia.

Mas a fila segue ordeira, até o momento de se sentar na régia cadeira. E, oposto ao quadro do espetacular Santos de Pelé, está-la bem claro

que náo se reservam lugares. Democracia nos ares. Minha vez.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 07/07/2015
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