Coragem X Covardia
Coragem X Covardia
Flávia Arruda
Seguir, nem sempre vencer, mas enfrentar com força e convicção os percalços que nos são impostos. Seria essas qualidades, o sinônimo de coragem? E quando não os temos claramente em nosso entendimento, poderíamos dizer que são atributos, os contrários, da covardia?
Se haveremos de nos abster de nos posicionarmos com convicção, movidos pelas incertezas e medos, de certo estaremos fadados a sermos reconhecidos como covardes imprestáveis. Seres desprezíveis e dignos de piedade. Seres que demonstram, nas suas fugas, a precariedade da alma e a autodestruição pelo seu próprio egoísmo. Seres mergulhados no lamaçal da covardia.
Coragem está longe de ser afrontar, guerrear, peitar... Coragem exige muito mais que ações impulsivas, brutais e atrevidas. Coragem tem como base sair de si e enxergar o outro, enxergar o todo. É desprender-se do egoísmo, da comodidade que o estado confortante da indiferença ilude favorecer, aos fracos de caráter. Coragem é a visão holística de todas as possibilidades crescentes e/ou decadentes, sem avançar e sem recuar. Coragem é manter-se firme, espiando o porvir.
Coragem é quando reconhecemos nossas fraquezas e ainda assim não entregamos os pontos. É quando entendemos e aceitamos os dois lados que nos povoam. É quando reconhecemos nossos deslizes e nos prostramos, em busca da compreensão do arrependimento e do perdão. Coragem é aceitar que somos feitos do bem e do mal. Coragem é acordar todas as manhãs com a certeza de que não haveremos de retroagir, pois o que está feito não volta mais. A vida segue a partir daqui, do agora.
Numa dessas madrugadas, uma fresta de luz se fez vista na negritude do céu. Atordoada e acanhada a aurora desponta e segue adiante. A estrela vespertina despontava no horizonte, desmistificando as lendas urbanas. Contrariando fatos e ações evidentes, Vérper revela-se em luz e encanto, Fascina, expurgando a covardia, revestido pela confiança e tranquilidade. Caráter e boa índole eram as cores do arrebol.
Ainda, de um atípico dia, das madrugadas incandescentes, manhãs incertas e tardes determinantes, nos seus instantes finais, a coragem apresentou-se com prudência, discernimento e calma. Aí se pôde perceber que nem sempre coragem é sinônimo de valentia nem de afoiteza. Ela é, sim, muito mais. É mostrar-se forte, determinado, sereno e ponderado. Coragem é vencer medos e dúvidas diante das incertezas da vida, ainda que estas ameacem trincar concretos.
Se me perguntarem se o antônimo de covardia é coragem, pode ser que eu titubeie um pouco... Reflita. Talvez troque este termo contrário, tão usado e difundido pelos dicionários mundo afora, por ponderação. Acho que em algumas situações calar, esperar observar, manter-se alerta requer mais coragem do que atrever-se imprudentemente. Pois, virar as costas e fazer de conta que nada aconteceu, é sair pela tangente, o resultado puro e inquestionável da covardia propriamente dita.
Mas, como dizem que o tempo se encarrega por resolver as coisas irresolvíveis pelo homem, os dias vão se completando e outros iniciando, devagarzinho as coisas começam a se acalmar. É preciso coragem para ver as horas se passarem, sem um passo em falso alcançar... Ainda que haja muita ânsia, expectativas e muitas suposições do que virá.
Imbuídos de coragem, haveremos de ver novas auroras em busca da estrela vespertina.
30/05/2015.