Estou de Luto mas ainda luto...
Estou de luto, mais ainda luto.
Jorge Linhaça
Olho em volta e não a vejo, cada rosto é um deserto tão árido e infértil quanto uma cidade devastada por um ataque nuclear.
Alguns dizem que está apenas adormecida, qual aquela bela, apenas à éspera de um beijo salvador.
Ouço/leio as palavras deflagradas por milhões de seres mortos em sua essência, meras estações retransmissoras de palavras de ordem e de novidades politicamente corretas.
Parece que todos desistiram de pensar livremente, de somar dois mais dois. Agora tanto faz se a soma é 4, 5 , 6 ou 137, não importa, só o que importa é que todos aceitem a “nova realidade”.
Vejo pessoas reclamando da violência, da intolerância, da educação deteriorada a cada ano, da falsa incapacidade de governos resolverem coisas simples, que qualquer pessoa comum solucionaria.
Ouço os gritos pedindo liberdade para cada um fazer o que quiser de sua vida, independente de se isso prejudicar a sociedade como um coletivo. Vejo pessoas gritarem por direitos, mas não vejo ninguém ( ou quase ninguém) falando sobre seus deveres.
Vejo a boiada marchando para o abatedouro cantando refrões de “músicas” populares que confundem libertinagem com liberdade. Vejo a apologia à estupidificação da sociedade brotar em cada esquina.
Os mesmos que fingem revolta quando um motorista bêbado atropela e mata pessoas, são os mesmos que acham que podem beber quando e quanto quiserem que isso jamais acontecerá com eles.
Os mesmos que pedem a diminuição da maioridade penal, são aqueles que estão ocupados demais para passar tempo com os próprios filhos. Os mesmos que reclamam da violência são aqueles que passam absortos nas telas de seus celulares e não vêm os milhares de crianças abandonadas nas ruas.
Os mesmos que reclama de falta de clientes para manter seu negócio, são aqueles que exploram funcionários com salários de fome.
Os mesmos que reclama dos impostos, são aqueles que os sonegam das mais variadas formas.
Os mesmos que reclama da baixa qualidade da educação, são os que se orgulham de pagar outros para fazer as monografias deles mesmos ou de seus filhos. São os mesmos que acham uma maravilha um sistema de ensino feito para empurrar alunos de série em série sem que os mesmos saibam ler. Afinal o que importa é o certificado de conclusão e não se os filhos aprenderam algo nas escolas.
Os mesmos que reclama dos traficantes, são os que dão mesadas aos filhos facilitando seu acesso às drogas. Muitos deles foram, ou são, eles mesmos usuários ocasionais ou costumeiros pois é preciso “ dar uma relaxada” do stress do dia a dia.
Os que reclamam de moleques jogados nas ruas, podem muito bem ser pais de alguns deles, já que o negócio e pegar o maior número de mulheres possível nas baladas, sem nem ao menos saber quem elas são e vice-versa. Afinal é preciso manter a “liberdade sexual” e parecer descolado para os amigos, já que é isso que as novelas, séries e filmes ensinam dia após dia.
Tornamo-nos uma sociedade de não pensantes, de seres incapazes de ver além da ponta de nosso próprio nariz, incapazes de associar dois fatos e consumidores esfomeados de ideias prontas propostas por artistas e pseudo-celebridades.
Não percebemos que a cada dia nos tornamos mais escravos dos “novos costumes” e dependentes da aceitação de quem nem sabe que existimos. Já não importa saber, só o que importa é parecer que se sabe.
Estamos sendo levados ao matadouro, não por partidos políticos, mas por quem comanda todos esses partidos. Somos consumidores de mentiras mascaradas de verdades que nos são enfiadas goela abaixo por uma mídia corrupta e incapaz. Gostamos de frases de efeito, de belas palavras, mas, sequer sabemos o seu significado.
Hoje li uma frase poética interessante, que provavelmente já foi lida por muitos, repetida por outros tantos, mas que não significa absolutamente nada para eles. A Frase?
“Em casa de menino de rua, o último a dormir, apaga a lua”
Quem é aquela que não encontro?
A consciência, não apenas aquela voz que deveria nos mostrar o certo e o errado, mas a consciência no sentido de sermos conscientes, de termos a percepção do do ocorre à nossa volta, de não olharmos apenas os efeitos, mas de entendermos as causas de cada mazela que enfrentamos.
Ou despertamos para a realidade “oculta” por detrás de muitas máscaras, ou dormiremos eternamente o sono dos ignorantes, escravos de nossa própria incapacidade de pensar.