NOÉ, UM DELEGADO ARRETADO

Era começo dos anos trinta. Arcoverde, porta do sertão pernambucano ainda se chamava Rio Branco. Fazia pouco tempo que deixara de ser distrito de Pesqueira. Mas estava se desenvolvendo, no começo era só a feira do gado, mas devido a ser entrocamento, começou a desenvolver. Mas faltava uma autoridade: o delegado. Sem ele ficava dependendo ainda do delegado de Pesqueira. O problema era arrumar um delegado, naquele tempo era nomeado pelo prefeito. Procuraram e não acharam, até que um conselheiro municipal lembrou-se de propor o nome de Noé, o proprietário de um bar, umm sujeito que viera de Vila Bela (hoje Serra Talhada). O bar mais sujo do mundo. Que tinha Noé que o credenciava a ser delegado? Segundo o ilustre conselheiro o fato de ser brabo, corria um boato que ele matara um em Vila Bela (mentira). Foi nomeado, a contragosto, quase na marra o prefeito, Antonio Japiassú o convenceu.

Na verdade não havia o que fazer, os dois meganhas davam conta do patrulhamento e de recolher os três bebns da cidade quando estavam exorbitando. Mas eis que apareceu uma bronca pesada para o delegado resolver, logo que assumiu. Estava no bar distraído, quando entrou uma comissão de mulheres da cidade, as beatas e megeras, foram logo exigindo do delegado uma medida para restabelecer na cidade a moral e os bons costumes: o fechamento do "fuá" das quengas no Beco do Bacurau, isso porque, segundo as representantes da moralidade, para ir todos os dias para a missa bem cedinho tinham que passar pelo beco e ver o resto de sem-vergonhice das quengas e dos safados que frequentavam o local. Que bronca! Noé era um dos safados. Mas agora autoridade tinha que arrumar uma forma de atender as megerqas e beatas, mas não fechar o "fuá". Pensou muito, mas arrumou um jeito de moralizar os costumes e deixar as quengas no seu lugar. Foi a única jloja do lugar e comprou um retalho de pano preto e junto com os meganhas colocou no beco, como uma espécie de cortina impedindo que quem fosse passando visse o que sucedia no interior do beco.

No outro dia, logo depois da missa, a comissão voltou ao bar, que era também a delegacia, e elas coemçaram a reclamar do delegado. Ele depois da chiadeira delas disse bem calm: "O problema foi resolvido, só vê o que as quengas estão fazendo e os sujeitos que as acompanham quem afastar um pouquinho a cortina. Não sejam curiosas, podem ir para a missa, o fuá não vai lhes causar nenhum chilique, e vao andando que tenho muito que fazer, roubaram um bode na Boa Vista". Acabou a chiadeira das megeras e beatas, foi restabelecida a moral e os bosns costumes em Rio Branco.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 06/07/2015
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