BOATEIRO E VALENTÃO

Na vila do Capão Redondo, encravada na Serra do Cipó, em Minas, morava o Antonio Frazão só com a mulher, Eufrasina, os quais cuidavam de pequena roça e criavam bichos miúdos, entre eles alguns porcos, galinhas e cabritos.

A época, logo depois da “Revolução de 1964”, ficou conhecida como os “anos de chumbo” e o General Médici era o Presidente da República, durão no combate aos adversários do seu governo.

Antonio Frazão gostava de bebericar sua cachacinha às tardezinhas, na venda do Piré, junto ao rêgo d’água que passava por detrás da birosca. À medida que tomava seus goles, ia ficando valente e metia o pau no governo:-

“- Essas forças armadas não tão com nada!...”

Um freqüentador do lugar, “Seu” Orozimbo, era tenente-coronel reformado, ouvia a lenga-lenga do Antonio Frazão e decidiu simular a prisão do boateiro. Levou três soldados fardados à venda do Piré e “prendeu” o boateiro, levando-o dali algemado.

No quartel, simularam um julgamento e decretaram o seu fuzilamento como pena pelo crime de “terrorismo”. Botaram o réu de pé, junto ao muro do quartel, mãos atadas às costas e “Seu” Orozimbo lhe perguntou:-

“- Quer a venda nos olhos pra não ver a morte?”

“- Não quero, não! Vou morrer de frente!...” – devolveu o Frazão.

“- Pois então, lá vai:- FÔGO!...” – ordenou o tenente-coronel, no que os soldados mandaram “bala” (pólvora seca) no Frazão, que caiu ao solo já todo cagado de medo. Em seguida, foi levado aos chuveiros, deram-lhe um banho de ducha fria e, mais tarde, o liberaram.

Já em liberdade, Antonio Frazão chegou à vendinha do Piré, na tarde seguinte e foi logo soltando:-

“- Vosmicês não contem pra ninguém, mas o Exército tá sem munição!...”

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B.Hte., 05/07/15

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 05/07/2015
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