UM FILOSOFO NA ZONA BOEMIA
Tenho notado algumas coisas estranhas em mim quando bebo; Meu lado direito do rosto inclusive o queixo fica mexendo, no outro dia meu estomago ficou inchado, estou com uma dor leve na perna esquerda, minha coluna dói na quinta vértebra, na junção da bacia com o fêmur dói. Não vou cobrir meu traseiro com as mãos, Não não vou. Pensou Camus sentado em sua cama no Copacabana palace;
O que estou fazendo aqui? Falo com meus olhos ai fico calado.
"Olha olha ai, Olha ai, ai é o Camus". Gritam os repórteres.
“começou o inferno” resmungou baixo; entrando no restaurante.
“Tenho alguns dólares vou me mandar desta estação de horror. Olha ai, ai de mim. Tenho apenas seis dias nesta cidade sem almas quero estar em um lugar em que me torne um mero cidadão comum”. Pensou;
”Professor o banheiro é logo ali". falou o mensageiro do hall do hotel;
“Que se danem, vou ate o povo sentir seu cheiro e paladar e suas angustias” falou baixo;
E saiu pela porta dos fundos do sumindo na noite. Pegou o primeiro trem que estava na estação e partiu não sabendo para onde iria.
Camus chegou na estação de trens de Belo horizonte seguindo para zona boemia que ficava ali perto. Um pivete passou correndo e roubou lhe o sobre tudo que estava sobre o ombro na rua dos Guaicurus, ele sorriu e pensou; “eis ai o meu lugar”.
Seguiu andando pelas ruas apinhada de mulheres semi nuas, homens bem vestidos de sapatos brancos, jovens drogados dançando nos bares essa era a sua procura, algo mais alem do que o normal. Segui sorrindo pelas ruas do prazer.
Perguntou ao porteiro De um hotel chamado brilhante.
"A zona é sensual Monsieur ?”.
“Ninguém o conheceu que bom; pensou;
“Que procura homem, algo entre as pernas das mulheres da vida que vestem ali mesmo suas mini saias? Perguntou o porteiro;
Talvez. Talvez mais que isso, mas pra quem elas deixarão sua herança? pergunta Camus;
“Para a vida senhor, para vida” disse o porteiro terminando o assunto.
"Roubaram o sobre tudo com o dinheiro, que faço eu nesta parte do mundo? Pensou Camus; Eu deveria estar no Copacabana ou em Paris, mas fugi destes lugares e daquela gente opaca que se dane, novas experiências vamos que as aventuras me esperam. Agora devo escrever sobre essa gente alegre mas revoltados.
“Hei você ai sou um Argelino no terceiro mundo, que vá para o inferno vá pros infernos os compromissos com a elite, mas como ir se já estou neste doce inferno " ;diz Camus sorrindo para um jovem de cabelos longos deitado a sua direita tomando um pico na veia e fumando algo num cachimbo de lata, que logo lhe ofereceu um trago, dizendo-lhe “puxa e prende” e sem saber que estava fumando a paranoia de todos nos começou a dizer coisas sem nexo.;
“hei monsieur eu nunca vi uma baleia nem sei falar Chinês. dei a minha vida as formigas da bastilha, os beija flores sugam as flores de plásticos, as velhinhas do asilo estão dançando valsa olha lá e por que não beijam aqueles velhos safados, mas que não se esqueçam que elas existem. As velhinhas transam o passado e fazem discursos pra estas pilastras da cidade, com seus olhos de labirinto, não vou vender meus sonhos mas vou empenhar os pesadelos aos Paraisenses.
O cabeludo em sua viagem diz a Camus;
"relaxa pai,relaxa pai"
Camus em seu discurso grita;
“Acho que é verdade que falam por ai. Ora esqueça, esqueça. O amor joga pedras pelo caminho, pra não se perder, uma tempestade de espinhos passa por minha cabeça, um mar de rosas passa por mim. Eu tenho uma foto preto e branco de terninho cinza. E agora caminho pelas vielas da America do sul e esse rio sujo mas charmoso chamado arrudas me chama, a chama ardente do deserto de minha infância. Quando estou por aqui lembro-me dos jardins de minha terra; meus braços longos, lábios finos, pernas fortes, olhos negros, e na lapela de meu amigo Sartre um cravo com um buque de rosas na mão direita para Simone e a minha Josefine dei lhe uma safira na boca. Agora que tenho essa cidade nas mãos vou bailar o baile desse povo, que baile o povo. Procuro a saída, uma saída. Espero um grito perfurado por balas da policia de Versalhes. A saída, Há saída? Preciso de um coração, sem maldades, preciso de um coração cheio de ardo, e uma causa. Eu sou Camus sem causa e revoltado. Não quero nem saber o que os médicos pensam. Quero uma cerveja gelada, ( amo cerveja quente com aguardente). Minha tosse esta seca, tenho tesão por Elizabeth taylor” Não tenho sua posse. Fui á alfândega fazer prova de vida, fiquei na fila do caixa por quatro horas e me deram uma certidão de óbito por minha presença. Professor Sartre você esta ai? Dai-me a sua lição, mas qual lição? Você foi embora sem falar o que dizer. Sua falta de ar é uma tulipa que flutua entre o rins e seu umbigo. Não quero ver TV na sua sala. Inalo a poeira, cuspo a poeira sobre o sangue RH positivo. Seus gritos professor estão na escada de mármore e saem varrendo a rua repleta de minhas guimbas de câncer radioativo. Poupe seus ossos professor, venha ao seminário das putas. Vamos correr pelas ruas pelas ruas dos puteiros desse Brasil livre, desta cidade de extensos horizontes, correremos das balas de mentas perdidas que esquentarão nossos cabelos. Vamos correr pelos terraços de alvenarias, chamaremos nossas mães, pularemos muros de cemitérios, cercas e viadutos, gritaremos por uma garçonete para servimos copos de aguardentes e vamos socorrer a menina do quarto andar do puteiro castelo do Drácula que ia para a escola e que chama os homens pra fazer amor. Vai ter tiros, poeira subindo aos nossos pés no beco esquina com uma avenida chamada Lieege. Talvez teremos medo professor, da noite. Aqui a onda de calor bate nos bares cheio de putas e bêbados como nos estaremos e ao meio dia, meio dia nossos fígados dirão basta e uma goteira pingará sobre nos gotas de ferro. Um cão de rua feroz vai rosnar a noite toda em nossas cabeças. Veja bem Sartre, eu cinqüenta anos, com dois filhos e minhas roupas espalhadas por ai como as pedras da rua esquecido pelos os cantos dos becos desta tal lagoinha isso me faz viver em liberdade. Vamos agarrar umas peruas ( como eles dizem aqui) na rua, e beijaremos seus mamilos e ganharemos alguns reais para embebedarmos nos bares desta cela repleta de ruas. Roubaremos pão e aonde anda uma puta chamada roxa vai consumir nossa opera parisiense. Esse teatro será nosso professor, pois você é meu único amigo e estaremos no doce inferno. Vamos ver cadeiras viradas, copos quebrados, ossos tortos, veias retorcidas, nervos trincados e uma lamina de gilete presa num espelho opaco e espelhos trincados estão em todas as almas com que cruzarmos, mas são almas que sangram, mas são felizes.Vermos todas essas macelas, mas eu e você aqui iremos fazer a festa nestes puteiros cheios de charme e aventuras que nunca fizemos na cidade luz. “Abraços e ate mais ver no próximo avião que partir de Paris “.
Camus chegou a rodoviária entrou no ônibus leito mandou um beijo para a cidade e foi se embora para o Rio ainda com a onda da fumaça do cachimbo de lata que fumou com o cabeludo.