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      UM DIA  LONGE  DE TUDO.

    Do meu relógio foi de quem primeiro me despedi . Depois de tirá-lo do pulso cochichei bem baixinho para os seus ponteiros que precisava ficar longe por uns tempos, quem sabe por um dia ou por muitos deles , sem  depender das horas nem para acordar . Ele entendeu perfeitamente  já que continuou a funcionar da mesma forma de sempre e então, com toda delicadeza deixei-o no melhor lugar da minha cabeceira .
 
Em seguida , já sem o relógio mas percebendo que os raios do sol  batiam na  janela do meu quarto peguei  o celular , outro dos meus amigos fiéis e inseparáveis e lhe concedi uma folga, um descanso, férias ou seja lá como for e isso, sem data marcada para o retorno .
 
Com outro fiel amigo pendurado na ponta do nariz, os meus óculos, parti para um lugar muito especial , para um clima de aconchgeo onde sempre   procuro   recarregar   as minhas baterias .      
    
Não fazia a menor questão de ligar o rádio do carro e nem de saber das horas, apenas  o que mais me interessava era estar rodando na direção do sol nascente, que ainda um pouco preguiçoso me recebia de braços bem abertos e aproveitava para ir apagando por onde eu  passava qualquer resquício, qualquer pontinha ,  qualquer lembrança que   pudesse   provocar    ou  iniciar  aquilo que poetas     e    poetisas adoram elogiar e com a qual   costumo   não   me dar muito bem e que é a saudade .
 
Não me preocupo  se sou ou serei lembrado , o que  quero mesmo é que nas minhas partidas ocasionais  e naquela que será a última consiga passar despercebido, deixando somente aqui ou ali uma vaga lembrança de quem sou, fui ou um dia serei .
 
 Para onde estou indo ainda se escuta o cantar do galo que ele sim, acorda o sol e com isso despacha a lua e suas princesas estrelas para o outro lado do planeta .  Lá com certeza vou  pisar descalço  na grama molhada, chupar manga que colher direto de uma frondosa mangueira, sentar no chão para uns bons dedos de prosa ,  não perder tempo fazendo a barba e nem me preocupar se os cabelos ficarem despentados , além de usar e abusar  da minha surrada calça jeans   .
 É nessas horas que escuto a voz do vento, o mavioso cantar dos pássaros e me delicio com as brincadeiras      de esconde-esconde das borboletas   coloridas   que   enfeitam   o roseiral . Aliás, fica difícil  escolher o que é mais bonito , se  o bailado das borboletas ou as rosas multicores   que balançam suavemente  ao sabor da brisa .
  Vou comer comida de fogão de lenha, cochilar numa rede depois do almoço ,  tomar café tirado do bule com coador e devorar bolo e broas de milho .  Comer queijo fresquinho, pão assado no forno e depois de tudo, observar as galinhas que cuidam tão bem dos seus filhotes .
 
Talvez  suba numa árvore para ver de perto o ninho do João-de-barro , plante alguma coisa na horta ou no jardim  e ao anoitecer, com aquele céu maravilhoso que não esconde nada da sua beleza eu dê risadas  de tanto perder a conta contando estrelas .
 
Espero fazer tudo isso e muito mais num dia ou muitos deles  longe de tudo .  O que  lamento, embora  também agradeça muito, é que sempre tenho que voltar e voltarei, até o dia em que lá ficarei para sempre e então , como o que faz balançar suavemente o belo roseiral.....serei apenas uma brisa.....


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(.....imagem  google.....)
WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 04/07/2015
Reeditado em 04/07/2015
Código do texto: T5299226
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