COMO ESTUDAR?

São Tomás de Aquino e o modo de estudar.

Nada entra pelos poros, só pela verdade do ensino que se aprende. Variados ensinamentos percorreram os tempos. Uma alma de sombras nada aprende. É necessário e impositivo ter espírito aberto, amar aprender. Os quizilentos, que andam de braços com a discórdia, que frequentam o desaprender, fornidos pela problemática de carências solitárias, os opiniosos pela desrazão, banhados em ilogicidades, os discípulos dos enfrentamentos da obviedade, da surdez aos grandes movimentos da humanidade, só ganham eco no obscurantismo, e não sobrevivem. Para aprender é preciso amar saber, ensinava o gênio Aquiniano. E diga-se, isso é mera eloquência retórica intransponível, nada mais nada menos.

Consideramos o núcleo filosófico chegado do século XIII. Como estudar na didática tomista? Direciona os jovens a buscarem uma vida espiritual e se adaptarem a uma vivência de virtude. Absolutamente impossível e improvável aprender sem espírito aberto, pelo menos um pouco virtuoso.

Um espírito fechado e não virtuoso, no sentido de não ter a devida compreensão pelo fechamento das portas do entendimento, terá dificuldades de aprendizado.

No Brasil do século XX Tomás de Aquino não foi frequentado, o grande mestre da escolástica medieval e do pensamento universal foi posto de lado. Mera falta de educação, de formação.

Se alguém conhece seu maior biógrafo, João Ameal, devemos nos curvar, é um esteta da vontade de saber um pouco mais, egressa das eminências do feitor da "Summa".

Análises singelas e reducionistas do pensamento acerca de um dos mais brilhantes pensadores da humanidade foi a grande conquista. Nada mais.

Tomás de Aquino não apenas comentou muitas vezes a obra de Aristóteles e o resgatou para grandes verdades do ocidente, ultrapassou esse classicismo tão importante para a cultura ocidental.

Tomás tratou em opúsculo sobre o modo de estudar. Um tema extremamente atual que se localiza entre a filosofia e a educação e outras áreas das ciências humanas.

As formas e as técnicas de estudar são apresentadas e debatidas hoje desde os cursinhos pré-vestibulares e preparatórios para concursos até mesmo nos cursos de doutorado e pós-doutorado. O ato e as formas de estudar são questões que preocupam o homem desde a antiguidade. Na modernidade, época marcada pela crescente preocupação com o saber, essa questão tornou-se quase uma obsessão. Por isso, não é exagero afirmar que o opúsculo produzido por Tomás de Aquino, no século XIII, em plena Idade Média, é um texto de suma importância e de extrema atualidade.

Tomás escreveu o opúsculo “O modo de estudar” (De modo studendi), no formato de uma carta, como uma resposta a um pedido de um jovem pertencente à Ordem dos Dominicanos , “João, irmão caríssimo em Cristo”, é o solilóquio.

Impõe destacar ser a corporação religiosa onde Tomás de Aquino foi pesquisador, pensador e professor, um berço de conhecimento, de notabilidade.

É missiva de dezoito parágrafos dirigidas ao “João” escrita sumariamente em conselhos concisos e práticos, o "De modo studendi".

Como estudar?

Tomás de Aquino unifica os temas, vê o mundo e o homem essencialmente como uma unidade. Em Tomás não existe a divisão e a cultura do fragmento. A unidade é a força de tudo. Nada mais significativo.

Nele não há, por exemplo, a divisão entre fé e razão, entre fé e política, entre ciência e fé, entre literatura e filosofia e coisas semelhantes.

Para ele tudo está unido e relacionado. Por causa disso, é possível tratar de um tema de forma isolada, mas nunca isolá-lo dos demais temas que compõem a vida. A vida é sequencia de causalidades, ninguém há de discordar. Nada sobrevive isoladamente. Só cérebros sem amplidão desconhecem a unidade. A virtual mecânica e motor de tudo.Ela é começo, meio e fim no ciclo da vida, e a vida não cessa, se transforma.

Em “O modo de estudar” Tomás segue esse princípio. Nesse estudo, ele deseja abarcar uma unidade temática dentro da vida. O espírito comanda uma vivência marcada pela virtude. Em Tomás não é possível, como acontece na sociedade contemporânea, separar a vida estudantil e a vida espiritual. A vida interior para que não se confunda com religiosidade.

Não é possível, enfim, separar uma conduta de vida, como tanto se vê, do todo social. Ninguém pode viver e estudar algo na sociedade em que vive apartando sua maneira de ser, o todo é integrado de partes.

O que acontecerá? Será um farsante consigo mesmo, em seu estudo(?), que se refletirá em desconcertante caminhada de desencontros e falta de entendimento, se divisões se estabelecerem no estudo.

Quem não se entende, não sabe o que é, torna-se divisionário,o que divide perde a força, este o sentido da unidade, e assim nada sabe da sociedade em que vive, e por fim de si mesmo que a sociedade integra.

Deixará de ser verdadeiro, não é verdadeiro, aparenta ser, e até mesmo não se apercebe dessa postura.

Torrel sinaliza que a obra do Aquinate converge para uma reflexão espiritual. Tomemos como interiorização afastada de religiosidades.Suas reflexões caminham para uma síntese de cunho espiritual personalista. Por exemplo, no opúsculo que é objeto dessa consideração os esforços em estudar e buscar o saber devem ser orientados para os “frutos da vinha dos exercícios do Senhor”. Trata-se de religiosidade com limites da boa vontade em ser, " a vinha do senhor" se estabelece em princípios de ordem moral e ética, normas nesse sentido, fundamentais para o grupo, fazer o que há de melhor, procurar o melhor, estudar por amor e não para proveito particularizado, mas para saber, e servir.

A busca pelo conhecimento e pela vida espiritual, assim entendidas interiorizações transparentes da própria realidade, sem obséquios personalistas, devem obter uma síntese de cunho espiritual.

Tomás ensina buscar o conhecimento primeiramente, não especificidades, como uma disciplina acadêmica ou uma teoria, mas buscar o próprio conhecimento, a fonte maior de qualquer tipo de saber fragmentado. Pontifica o grande filósofo, “todos os homens, por natureza, tendem ao saber”.

É o pensamento aristotélico, Tomás afirma que o desejo de conhecer é inato ao homem e que, por isso, o homem deve sempre estar aberto ao conhecimento, recebê-lo. Isto sem reservas e resistências absurdas ao que está pacificado.

Antes mesmo de se conhecer uma coisa de forma específica (um livro, uma teoria, etc), é preciso se abrir ao conhecimento, deve-se amar o ato de conhecer. Não sendo assim o obscurantismo será o “dominus”.

Estudar levará a conquistas e só se torna algo agradável se o aprendiz, o aluno, amar o ato de conhecer.

Se o estudo for apenas uma obrigação como usual, não haverá conhecimento. O conhecimento e sua perseguição deve ser contínuo e constante. Não se deve buscar o conhecimento apenas para atingir um determinado fim (passar em uma prova, arrumar um emprego, etc), mas deve ser um saudável ato presente no cotidiano.

É difícil chegar a algum saber sem amar saber.Ensinou Tomás de Aquino.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 03/07/2015
Reeditado em 03/07/2015
Código do texto: T5298554
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.