A Latere 9
Sophia ou a Solidão Dourada
À margem da sua biografia e obra, das condecorações, prémios, bustos e estátuas há, na minha memória, a figura da mulher frágil, doce e reservada, que conheci, nos idos de oitenta, na Galeria de S. Mamede. A sua poesia, ao tempo já muito divulgada, aparecia associada às artes plásticas numa publicação luxuosa sobre o Natal. Era diretor do espaço Francisco de Sousa Coutinho, um exímio negociante. Foi ele quem me apresentou à poetisa que já autografava livros e sorria, delicada, aos muitos admiradores que ali tinham acorrido. Apesar de muito habituada ao traquejo social, Sophia pugnou sempre pela reserva da sua intimidade. Crescia e sonhava nela, libertava-se de regras e peias, criava em isolamento que a sua família aprendeu a respeitar. Tudo à sua volta se condicionava à sua necessidade de paz e de silêncio, de harmonia. A beleza foi o lastro das suas vivências, o filtro por onde coou as palavras da sua grandeza. Sensível, inteligente e arguta, Sophia de Mello Bryner Andresen marcou de luz todos os que conheceu e continua a tocar com a sua essência os que, lendo-a, não podem deixar de a amar. Prémio Camões em 1999, repousa no Panteão Nacional desde 2014.