De sertanejos, adolescentes, pareceres e fatalidades!
De sertanejos, adolescentes, pareceres e fatalidades!
Gosto do gênero musical sertanejo. Prefiro o tradicional, raiz, mas não desgosto do universitário. Fico admirado com a marcante característica de seus representantes, a persistência, a busca alucinada pelo sucesso, a conquista de espaço no mercado artístico.
Moro numa cidade, a exemplo de Goiás, onde florescem talentos sertanejos e presencio a avidez, a louca esperança desses jovens por um lugar no coração dos fãs.
Estas reflexões me fazem associar a conduta sertaneja com o momento adolescente. A adolescência é a fase do desenvolvimento, potencialmente, mais importante para os avanços da cultura. É hora de inquietude, rebeldia, ousadia, liberdade. É tempo de pensar diferente, extravagante, exótico, alógico. É ocasião de transgredir, transcender o tradicional. É a florescência da vida adolescente que faz a sociedade progredir!
A leitura de “Dois mitos e um parecer”, edição junho/julho 2015 da Revista Nova Escola ilustra meu argumento de a fase adolescente ser o motor das transformações da sociedade. O artigo de Bruno Mazzoco relembra as peripécias da contratação do Pedagogo Paulo Freire na UNICAMP e de como o filósofo Rubens Alves, com um “não parecer” transgride e transcende, de maneira adolescentemente madura, o “status quo” vigente.
Faço uma afirmação sem receio de errar sobre Paulo Freire e Rubens Alves. Eles foram adolescentes no sentido aqui expresso, por isso mesmo, à medida que chegavam à vida adulta, iam sendo capazes de tanto contribuir para a evolução do conhecimento e da sociedade brasileira.
Possivelmente, (agora não é afirmação categórica, mas um modo de olhar, um parecer sobre a relação adulto/adolescente) por saber da potencialidade criativa da fase adolescente, a conduta dos adultos para com eles deve ter sido de acolhimento e proteção. Os adultos do seu convívio os acompanharam o tempo todo, o quanto foi necessário, possibilitando a efervescência das suas adolescências, permitindo que o caldeirão até transbordasse, mas de forma que o derrame não pusesse em risco o alcance dos corações das pessoas do bem.
É obrigação do jovem adolescer. Sonhar, inquietar, rebeldiar, ousar, transgredir, transcender, libertar, apaixonar. Correr atrás de ídolos, dar chilique na porta de hotéis, escrever quilometragens de mensagens de amor, chorar de êxtase ao beijar sofregamente o autógrafo conquistado a duras penas, no aconchego de seu lar, no seu quarto protegido, na sua cama que é lugar quente!
É obrigação do adulto acolher e proteger o jovem. Não deve abortar, nem reprimir o desenrolar adolescente, não dá certo, é inevitável, e as consequências do não adolescer costumam ser muito danosas para o jovem. Nem convém se envolver intimamente com ele. É claro que a frescura juvenil é atraente, sedutora, mas a busca adolescente não é pelo adulto, mas pelo glamour que a extravagante imaginação adolescente é capaz de alucinar sobre aquele esfuziante modo de vida.
O que ocorreu na BR 153, nem precisa de vidente ou caixa preta, foi imprudência e fatalidade!
O que dói é a evidência que uma adolescente promissora perde, por causa de caprichos do destino, a oportunidade de complementar seu adolescer, de sorrir maliciosa, junto com as amigas, ao ouvir, pelos corredores, suspiros apaixonados de colegas de universidade!
João dos Santos Leite
Psicólogo – CRP04-2674
01/JULHO/2015