Vivas aos Setenta de Mulher!
A grande motivação para escrever este texto, foi a proximidade do aniversário de setenta anos de uma das mulheres mais importantes de minha efêmera existência.
Efêmera, não pelo fato de ter vivido pouco, pois já contemplo os “70” há mais de três anos, mas pela extensão da vida diante da eternidade do tempo, não passar de um insignificante grão de areia na ampulheta dos universos.
Bastaria repetir o que cantei, quando meus grisalhos estavam no seu começo precoce: “Johanna Maria és responsável pela minha poesia” e entenderia o quanto quero lhe dizer. Sentiria e interpretaria o tudo contido em quase nada, em rima tão simples.
Mas, o registro, tem a pretensão de “cantar aos quatro ventos”, de dizer ao mundo, de sua importância, de quanto sua existência tornou o viver melhor e mais feliz.
Tu, mulher de setenta, guardas dez criaturas vividas cada período de sete anos: desde a criança, a adolescente e a jovem que foste até essa “mulher de setenta”, de hoje.
Guardas a inocência da criança que foste. Inocência tão forte e nobre que se renovou e se manteve.
Tu mulher de setenta guardas o vigor, a fantasia e a vaidade de cinco jovens (5X14): a primeira, a debutante, que viveste de fato, e as quatro outras que te acompanharam e, também permanecem em ti. Permanecem, mas alteradas pelo teu próprio desenvolvimento, nesse teu firme caminhar pela vida.
Tu mulher de setenta, guardas: a beleza, o viço, a sensualidade de mais de três mulheres de 21, como registros indeléveis, mas também alterados como os foram os da criança e da jovem.
Tu mulher de setenta, guardas: a beleza, a arte pujante da maternidade, a sensualidade e a inquietude de, praticamente, quatro mulheres de 28 e de duas de 35; a beleza, o desejo de transformação, uma angústia sem razão aparente e uma sensualidade independente e liberta duma mulher de quarenta; a beleza, o sentimento materno ampliado; o interesse pelos trabalhos para sua transformação e voo em queda livre para o mundo, duma mulher de cinquenta; e a altivez, uma inexplicável explosão de fraternidade; a independência; e a construção de tolerância sem limites, necessária para realizar-se como avó da mulher de sessenta.
Finalmente, tu mulher de setenta contemplas de teu pedestal, construído pelo teu atento viver demonstrações visíveis de transformação e de tolerância com as outras mulheres que foste e te acompanham; bem como profundo aprendizado em ocupar-se e não em preocupar-se.
Tu mulher de setenta és a síntese de todas essas mulheres. Trazes e carregas, com altivez, as experiências dos mais diversos personagens, para os quais foste escolhida pela Lei, para interpretá-los. Escolhida, de certo, porque alguns deles exigiram e exigem a força dos lírios, que florescem belos, mesmo sobre pântanos.
Filha, irmã, colega, adolescente, estudante, imigrante, trabalhadora, namorada, noiva, esposa, amante, nora, tia, mãe, educadora, escoteira, amiga, companheira, enfermeira, costureira, lavadeira, cozinheira, passadeira, faxineira, secretária, jardineira, turista, confreira, sogra, voluntária, enfim os mais diversos papéis e funções, como preparação, para, como numa síntese apoteótica, te tornares OMA (AVÓ).
E, hoje, como avó, com teu perceber dilatado pela experiência de teu repertório de vida, estás preparada para o exercício do amor: no respeito à natureza e seus reinos; pela admiração ao infinito, salpicado de astros e estrelas; pela responsabilidade com teus sentimentos, pensamentos e ações; e pelos cuidados especiais com a grande família ampliada pelos irmãos e amigos.
Todo esse exercício do amor, como numa espécie de materialização, é percebível no profundo azul de teu olhar, no teu sorriso de criança, no teu jeito de falar e gesticular, numa alegria incontida, como numa plena expressão de teu ser, quando estás no desempenho do papel de avó, sendo premiada pelo teu desempenho, quando aos teus ouvidos, chega o vocativo dos netos, OMA.
Parabéns mulher de setenta! Desejos de todos que esse teu papel síntese tenha longa duração.
No caso especialíssimo da mulher amada, parabéns mulher de setenta! Foste, és e serás, a musa da prosa, rimas e melodia de quem te ama.