INTERNET E IMBECILIDADE. UMBERTO ECO.
Um amigo que escreve no site, Jorge Sader, me pediu para tecer consideração em seu blogue sobre essa manifestação de Umberto Eco.
E o fiz. Faço agora aqui diante de sua entrevista para a revista “Veja”, qualificando de imbecis alguns que escrevem na internet.
É como ele refere, que não quis agredir, falou como cientista do meio, apenas registrou o que acontece. O que é imbecil, diz o Hoauiss, melhor dicionário nacional, verbis: “aquele que denota inteligência curta ou possui pouco juízo, idiota”.
Traduzindo, quem disserta sobre o que não conhece ou que é absolutamente conhecido pela inteligência média por estar devidamente colocado no patamar da notoriedade e, portanto, não pode enfrentar contrariedade, é imbecil, está abaixo da inteligência média, ou seja, possui inteligência curta, nenhum ou pouco juízo e se avizinha da idiotia.
Umberto Eco, por sua envergadura não tem e nunca teve perfil agressivo ou vontade de diminuir. É mera constatação vizinha da realidade eloquente. Um cientista não pode calar, muito mais um expert de semiótica.
Umberto Eco é filósofo de origem. A estética medieval foi seu direcionamento inicial aos textos de São Tomás de Aquino. Basta isto para guindá-lo aos cumes da responsabilidade e da generosidade do convívio. É um tomista.
Eco notabilizou-se por seu aprofundamento acerca da cultura de massa, em especial os ensaios contidos no livro "Apocalípticos e Integrados". Defendeu novas posições nos estudos dos fenômenos da cultura de massa, desmistificando aqueles que acreditavam ser a cultura de massa ruína dos "altos valores" artísticos. Isso lhe dá uma condecoração que faria da assertiva um paradoxo.
Pela pesquisa em semiótica, nos trouxe uma nova compreensão da disciplina, segundo pressupostos buscados em filósofos como Immanuel Kant e Charles Sanders Peirce. Nada é necessário acrescer pela magnitude etiológica. Sua coletânea de ensaios - “As formas do conteúdo” e “Tratado geral de semiótica” - mostra seu alcance como o acadêmico que se tornou um dos maiores romancistas lidos, não só eminente pesquisador.
Eco não fala como um qualquer como falam aqueles do que nada entendem e ele combate. Combate o bom combate aquele que desfigura e sinaliza o desserviço através de um adjetivo verdadeiro. Combate os que querem professoralmente sepultar o professorado, expondo tolices que contrariam fases definitivas da humanidade, conquistadas e sem possibilidade de retrocesso e falam do que não conhecem.
Semiótica tem por finalidade investigar as linguagens possíveis, todas, pelo exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno de produção da manifestação.
Trata-se de teoria geral das linguagens e sistemas de significação .
Não abrange somente verbal linguístico, mas extralinguístico, como a música, o teatro, a poesia, o cinema, e ainda, as propagandas das revistas, os jornais e tantos textos que o homem produz. Em suma , tem autoridade Eco quando fala de comunicação.
Os múltiplos sememas, unidades culturais, formam cadeia de liames que os mantêm unidos.
Eco tem destaque no cenário acadêmico e literário, concilia produção teórico-crítica com produções artísticas, com gigantesca recepção e influência nos dois âmbitos.
Para a Revista Veja, indagado, respondeu:
“Foi um estrondo a sua declaração, em uma cerimônia na Universidade de Torino, de que a internet dá voz a uma multidão de imbecis. O que o senhor achou da dimensão que o assunto tomou?
As pessoas fizeram um grande estardalhaço por eu ter dito que multidões de imbecis têm agora como divulgar suas opiniões. Ora, veja bem, num mundo com mais de 7 bilhões de pessoas, você não concordaria que há muitos imbecis? Não estou falando ofensivamente quanto ao caráter das pessoas. O sujeito pode ser um excelente funcionário ou pai de família, mas ser um completo imbecil em diversos assuntos. Com a internet e as redes sociais, o imbecil passa a opinar a respeito de temas que não entende.
Mas a internet tem seu valor, não?
A internet é como Funes, o memorioso, o personagem de Jorge Luis Borges: lembra tudo, não esquece nada. É preciso filtrar, distinguir. Sempre digo que a primeira disciplina a ser ministrada nas escolas deveria ser sobre como usar a internet: como analisar informações. O problema é que nem mesmo os professores estão preparados para isso. Foi nesse sentido que defendi recentemente que os jornais, em vez de se tornar vítimas da internet, repetindo o que circula na rede, deveriam dedicar espaço para a análise das informações que circulam nos sites, mostrando aos leitores o que é sério, o que é fraude. Será que os jornais estão prontos para isso? A crítica da internet exige um novo tipo de expertise, mesmo para os jornais. E isso é muito importante para os jovens, pois eles não têm, aos 15, 16 anos, os conhecimentos necessários para filtrar as informações a que têm acesso na rede. Ora, assim como quem lê diversos jornais acaba aprendendo a distinguir as abordagens distintas de cada um deles, os jovens hoje precisam aprender a buscar essa variedade de abordagens nos sites que frequentam.”
Não há como discordar de Umberto Eco, ele retrata a puríssima verdade irretocável. Só a falta de razoável conscientização do que ocorre nesse veículo discordaria. E viraria mais uma imbecilidade.