Eu sempre tive medo de “cegar”. Estranhamente nunca temi a escuridão. A ausência de luz.

     Fui crescendo e comecei a perceber que são muitos os tipos de cegueira. Que podemos ter olhos saudáveis e, mesmo assim, não vermos. E esta cegueira, a que tem acesso a luz, a todas as cores, mas nos impede de ver passou a me assustar mais que a outra.

     Comecei a perceber que precisava buscar mecanismos que me afastassem dessa cegueira, que me livrasse da escuridão da ignorância, da arrogância, do medo, da prepotência, do preconceito, da intolerância.

     Encontrei nas leituras, na busca pelo conhecimento, um aliado contra essa forma de cegueira, mas quanto mais leio, quanto mais penso saber mais descubro outras formas de cegueira e me percebo pequena e insignificante diante deste mar de "desconhecimentos".  Cega eu já matei um gato. Cega eu já feri pessoas muito queridas. Magoei estranhos. Cega eu me transformo em um ser irracional.

     Tem dias que me sinto tão impotente que chego a pensar que melhor seria não me perceber cega. Nunca ter visto nada através da luz do conhecimento. Se minha visão fosse comandada apenas pelos olhos eu só veria as belezas externas e estaria bem mais feliz e tranquila.

     Mas não aprendi a ver o mundo assim. E mesmo naquele dia em fiquei cega de ódio e desejei, com todas as forças de meu ser egoísta, a morte de quem roubou parte de meus sonhos chorei arrependida e pedi perdão a Deus por ter agido de forma tão mesquinha.

     Quero continuar olhando as pessoas com olhos benevolentes e acreditando que é possível curar esta cegueira que nos impede de respeitar as pessoas como elas são. Sonhando com um mundo onde não precisaremos mais justificar nossas escolhas nem sermos, por isso, crucificados.