Batatinha, pipoca e refrigerante da hora
Entrando em um ônibus de volta para casa, observei dentro do transporte que se encontrava um rapaz vendendo algumas batatas fritas, pipocas e refrigerantes. Chamou-me muita atenção a forma e disposição que o rapaz tinha para tentar vender os alimentos. Eram 4 caixas às quais todas adaptadas para que seu trabalho fosse facilitado dentro dos coletivos. Observando este pequeno fato cotidiano que ocorre nas cidades, pude constatar que o país ainda tem solução. Talvez, o problema ainda esteja no povo, que, diante de vários percalços diários, não tinha observado que a maioria desses rapazes poderia estar com uma arma na mão, assaltando o coletivo. Infelizmente, ele não obteve muitas vendas neste coletivo, eu ainda comprei um pacote de batatas.
Como é difícil descrever um trabalhador em um coletivo. Seria mais fácil descrever o “bem sucedido” em seu carro de luxo, indo para a sua mansão. Descrever alguém “bem sucedido” traria a esperança ao leitor, aguçaria o seu desejo de querer buscar o que a sociedade de consumo nos mostra diariamente através das propagandas imediatistas. Isso seria o modelo ideal a ser seguido. Entretanto, entre as caixas improvisadas do ambulante, eu vi uma nova forma de pensar, observei uma criatividade emergindo na busca incessante do brasileiro atrás do seu ganha-pão. O pensamento criativo das caixas improvisadas me fez crer que o país ainda possui seu lado criativo. Nós ainda pensamos, basta um incentivo, basta apenas comprarmos as batatas, pipocas ou refrigerantes da hora.
E, no meio disto tudo, sempre tem alguém que falará “Não estudou”, como se soubesse a realidade às quais várias pessoas passam na vida. Muitos julgam sem ao menos saber quais os coletivos diários as pessoas pegam na vida, e em muitos desses coletivos existem os omissos sociais: Pessoas que não enxergam a criatividade em pequenas coisas da sociedade, e, lamentavelmente, nossa educação atual vem tomando os mesmos rumos destes coletivos de hoje. A educação é um coletivo que apenas quer chegar ao seu ponto final, não existe criatividade, solidariedade, não tem pensamento crítico, é tudo no itinerário, tudo programado, tudo imediato...
Também, não tiro a razão do povo. As coisas andam complicadas! Os momentos não são dos melhores, é tanta corrupção na cabeça do povo, fica até difícil ser solidário, ou pensar em comer algo dentro do coletivo. As razões são tantas, eu tive as minhas. São tantas razões, tantas perguntas, às vezes, não temos respostas e, quando não existem respostas, fica complicado achar uma saída para um povo acostumado a ter respostas prontas... E, quando não se tem respostas prontas, somos levados a pensar, a ter criatividade, e é quando o bicho pega...
O trabalhador desceu do coletivo, vendeu duas batatas... Desceu sorrindo e agradeceu aos passageiros, ninguém respondeu. O ônibus seguiu seu destino... E, assim, todos continuaram sua viajem.
Jonas M. Carreira (Historiador)
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