Deixa pra lá

Olhei para ele ali parado e pensei em falar sobre todas as coisas que estava sentindo nos últimos tempos. Coisas muito mais minhas do que nossas talvez... coisas do meu coração apertado, angustiado, cheio de dúvidas e medos. Mas ele parecia mesmo não querer saber. Parecia. há tempos, não mais se importar com os rumos que tomavam nossas vidas. Acho que ele acreditava que não existiam rumos outros para nós dois. Acho que pensava que ainda andávamos na mesma direção, sem se quer perceber que há tempos havíamos soltados nossas mãos.

Continuei olhando para ele com todo carinho do mundo, com todo zelo. Sentia um pouco de pena por ele não saber reconhecer o que se passava entre nós. Mesmo que por infinitas vezes o culpado tivesse sido ele de nos afastar. Mesmo que o silêncio tivesse sido dele e a dor tivesse sido minha. Às vezes eu me questionava se ele era mesmo capaz de sentir. Não só algo por mim, mas algo pela vida. Algo que estivesse mais atrelado as coisas do coração do que as coisas do corpo. Isso me enfurecia, mas, ao mesmo, tempo me fazia sentir pena dele, por não ser capaz de ser mais profundo ou honesto comigo. Honesto com ele, não sei bem...

Ele me olhou e sorriu e puxou meu rosto para perto do seu. Eu sempre gostei de ficar ali aconchegada em seus braços. Sempre gostei da ilusão que trás ficar assim confortavelmente protegida nos braços de alguém. De como afastava a solidão e de como fazia me sentir amada. Sempre fui mais insegura do que precipitada. Sempre acreditei no amor e acreditei que valia lutar até o fim. Mesmo que o fim parecesse certo e anunciado. Mesmo que não tivesse volta. Parecia que ali, aninhada nos braços dele, ou de quem quer que fosse, eu sempre teria para onde voltar.

Resolvi deixar pra lá, como sempre deixava.