Jegues e Leões

Como estou sempre tentando estabelecer relações entre objetos, pessoas, animais, sentimentos, ou até entre o nada e nenhuma coisa, achei que poderia ser interessante pontuar o ostracismo a que, coincidentemente, foram submetidos os jegues e os leões no Brasil nos últimos anos. Fiz, portanto, o meu dever de casa, e ainda me surpreendi com algumas coisas que descobri.

Os jegues, coitados, foram atropelados pelas motocicletas, que invadiram as pequenas propriedades, substituindo plenamente a sua força motriz: panacuns de laranja, mandioca, rapadura, banana... tocar o gado no pasto, isso agora as motocicletas tiram de letra. Em algumas cidades de Pernambuco, Sergipe, ou mesmo aqui na Bahia, há muito tempo que no câmbio negro um jegue vale menos do que uma galinha!

Os leões, abandonados por seus donos, por conta da legislação atual que não mais permite atividades circenses com animais, principalmente com os silvestres, foram condenados a passar fome, ou a comer cenoura, repolho, macarrão... no quintal de algum classe media excêntrico.

Diante dessa triste constatação, pensei no seguinte: que tal se propuséssemos às autoridades entendedoras de transmutação genética o cruzamento desses animais para, enfim, encontrarmos uma solução solidária a essa causa? Um resultado híbrido que eliminasse alguns pontos fracos dos dois, tornando, inclusive, o resultado desse suposto cruzamento mais competitivo do ponto de vista mercadológico, hein?!

No caso do leão, por exemplo, poderia ser preservado o seu estigma de predador (não foi à toa que o fisco brasileiro resolveu atrair para si essa simbologia) - isso poderia ser útil na substituição dos nossos totós na vigilância doméstica, claro que com muitas ressalvas para serem avaliadas. Cito aqui algumas: não caberiam na maioria dos nossos minúsculos apartamentos, o seu alto consumo de proteína, aquele cheirinho desagradável característico dos felinos...

Quanto aos jegues, preservaríamos a sua força motriz, útil agora nas cidades na movimentação de elevadores de prédios de baixa estatura e pequena quantidade de moradores em que o rateio de energia tem deixado os condôminos insolventes, ou para arrastar automóveis enguiçados, ou até mesmo para transporte público alternativo. Sei, carrega aí a injusta pecha de destruidor dos lares alheios - mas ele só vai no que está dando sopa, não entra no quarto de ninguém, a não ser que ninguém abra a porta, vá conduzindo Miss Daisy até aquele ededrom com cheirinho de Confort... assim não precisa nem ser jegue! - O coitado carrega também a fama de burro; burros são aqueles que falam asneiras; ele, não, é jegue.

Na hipótese futura de termos consumado esse cruzamento genético, vejamos uma imediata utilidade para essa nova criatura: poderia perfeitamente substituir os atuais "leões de chácara” das boates, pois a rapaziada que frequenta esse ambiente tem se queixado muito da truculência praticada na área por esses bárbaros: falta feeling! - comentário bastante afetado feito por uma biba a seu partner na porta de um desses inferninhos.

O nome da criatura? Pensei em Jegão, mas... ah, esquece.

Texto: Masé Quadros

Masé Quadros
Enviado por Masé Quadros em 27/06/2015
Código do texto: T5292063
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