POESIA É ARTE?
Escrevi em última crônica sobre a visão de João Ubaldo sobre literatura. Seria arte? Fortes suas tintas, mas verdadeiras sob alguns aspectos diante da comunicação e sua confusão com o que seja literatura. Disse João Ubaldo que: “Não me encaro como um homem de letras. Tenho enorme tédio por essa tal de literatura”.
Tem suas razões, pois fora de parâmetros de informação de todas as angulações do humanismo e o que se vive, é uma reportagem a literatura, reportagem histórica, sobre todas as ocorrências e atividades humanas. Nada mais.
Qualquer um pode escrever, o que é diverso nas artes plásticas sob o comando do cinzel, das tintas e da fatura, da paleta e do pincel. Atividades para poucos. Ou se é artista com dom ou não. Escrever qualquer um escreve, seja o que for, há gosto para tudo.
A poesia de cada um, boa ou não, gostada ou não, é lúdica, irmã da alegria em dizer o que vai no sentimento, nada mais. Todos têm sentimento.
Literatura é outra coisa, informação, de multiplicidade de assuntos de época, sucessão informativa histórica, e ainda diversa e diferente da pura arte. Um escritor de cordel escreve, reporta histórias, regionalismos, bairrismos, independente de conhecimentos gramaticais maiores, como se vê nos poetas modernosos, principalmente na internet.
As duas mais emblemáticas poesias do mundo não são poesias pura e simplesmente, mas reportagens históricas, a Divina Comedia de Dante Alighieri, considerado o segundo monumento do ato de escrever do mundo, depois da Bíblia, listado como poesia memorialista encorpando máximas histórias de celebridades em canto, e os Lusíadas referindo as grandes sagas. Integrais reportagens históricas, plenas. Inclua-se a Odisseia entre outras. Mesmo pinçados grandes poetas brasileiros, onde incluo Cora Coralina, temos o aspecto histórico reportado, menos lúdico e mais informativo, como em "Minhas Mãos", onde mostra ter contribuído com o pouco valor que tinha, suas alianças de ouro, ainda que pessoa pobre, para movimento social.
Do memorialismo como reportagem temos o notável Pedro Nava e Gilberto Freire, que testemunham essa verdade, tanto quanto regionalismos relevantes como Jorge Amado e Guimarães Rosa. Um grande séquito a referendar o que se diz.
Poesias "água com açúcar" vão satisfazer necessidades tanto pessoais quanto de quem delas aufere, algo compensador na sentimentalidade comum que atinge a todos. É bom, mas despiciendo para a reportagem histórica que fica. É episódico na relevância. Amantes e amados, sofrimentos de rupturas ou festas de chegadas, natureza e suas cores, belezas matutinas e do poente, brilho das cores que encantam na natureza, nas flores, pássaros, mares, céus, e tanto e mais, se plasmam, marcam momentaneamente, mas não reportam história, que fica e como se diz se repete, jargão notório, se repetem. Cantos assemelhados refletem a poesia rotineira que não celebra,muito menos imola. Nada se cria, tudo se copia, mesmo no inconsciente.
Externar o que sentimos é necessidade quase terapêutica, seja qual for o veículo que a conduz, a natureza pessoal agradece.