Problemas

 
Existem dois tipos de problemas: os meus e os resolvidos.
Fernando Medeiros

Dia desses, fui surpreendida com um engarrafamento monstro à saída de casa. Nunca havia visto nada igual.
Depois de rodar algum tempo, sem conseguir engatar a segunda marcha do carro, descobri o que era: na altura da 16, no Eixão Norte, as três pistas estavam fechadas por dezenas de ônibus escolares em algum protesto cujo motivo, por mais legítimo que seja, perde razão quando coloca em cheque o meu direito de ir e vir. O meu e de todos os outros motoristas que estavam agoniados ali, tentando escapar do bloqueio. Muitos, como eu, nem filhos têm, para serem, dessa forma, prejudicados pela insatisfação de quem transporta as crianças dos outros.
Quando morava no Sudoeste, a frequência em que este tipo de manifestação me atrapalhava era muito maior, uma vez que meu trajeto passava pelo Eixo Monumental, mais politicamente atraente para quem deseja atrair as atenções da mídia às suas queixas.
Na TV, reportagem mostra o estado de calamidade que enfrentam os pacientes do Hospital São Paulo e acrescenta que os médicos residentes decidiram entrar em greve na terça-feira, dia 23, por melhores condições de trabalho (não de salário), que lhes permitam atender à população com mais dignidade. Considerando a remota hipótese de eles obterem êxito na demanda, será que, até lá, a situação que já é caótica não ficará ainda pior? É justo fazer de reféns as pessoas que precisam do hospital, ainda que os motivos sejam nobres?
Do mesmo modo, sou contra as greves dos ônibus. Seria mais inteligente se motoristas e cobradores fizessem o transporte gratuito, impactando justamente os bolsos dos patrões e não a já tão sofrida massa que precisa do transporte público. Certamente, teriam muito mais apoio. O meu inclusive.
Aliás, esta deveria ser uma preocupação de quem se coloca numa disputa contra poderosos. Focar suas ações sobre quem realmente pode resolver o seu problema, e não sobre quem depende de seus serviço ou não tem mesmo absolutamente nada com isso.
Quando a polícia rompeu o bloqueio dos escolares, segui satisfeita pela solução do meu problema. O deles? Estava tão irritada que só consegui mesmo foi torcer contra!

 
Texto publicado no Jornal Alô Brasília de hoje.