Com Plexo.

Quando você era criança, as suas ideias eram incompatíveis com as que você tem hoje. Isso se você tem mais de trinta anos, e cresceu. Talvez, guarde um pouco da criança que foi dentro de si, mas o fato é que as suas células, cada um de seus cabelos, o branco dos seus olhos, que definiram quem você era na infância, deixaram de existir. De uma certa forma, você deixou de ser quem você foi, e parece que a criança se foi, porque o ego dela, as ideias e sonhos, não é o seu ego de hoje, nem as suas ideias, nem os seus sonhos. Há exceções é claro, mas regra geral...

Mas a criança não morreu! Ela é, e foi parte válida de você, como um irmão mais novo que um dia você pode encontrar por ai, olhar com os olhos cheios de dúvidas e ternura, e pensar: aquele foi eu... Não! Aquele sou eu ainda, num canto escondido aqui, dentro de mim. Isso quer dizer, que nada do que você foi ou passou foi em vão. Porque, cada um de você que ficou pelo caminho, é um eu válido e existente por si só. Pois acredite, quando você ia atravessar a rua e desistiu, em algum lugar, num universo paralelo, o seu eu atravessou a rua, e criou toda uma nova perspectiva de “futuro” para aquele eu. É mais ou menos como uma estrela que irradia fachos de luz para várias direções e incomensuráveis distâncias, mas ainda assim, cada facho continuando a ser parte da estrela original. Mas, para quem olhar, quando o brilho do facho chegar, nova estrela vai ver.

É complexo? Não faz ideia! Aqui está resumido por demais, simplificado demais! Tudo é simples e compreensível demais perto de certas coisas... É fato notório que tanto a ciência como a religião se baseiam em conceitos, regras e leis, motivo pelo qual se prendem a um conservadorismo que, embora tolerável, retardam suas evoluções e seus resultados. Quando cientistas ou religiosos ousam acrescentar ideias novas são rapidamente contestados, criticados e alienados. Mais tarde, depois de perceberem que suas ousadas teorias tinham fundamento, são perdoados, aplaudidos e aclamados. Uma é exatamente igual a outra, previsíveis, porque são humanas, entendíveis, porque são humanas. Viu! Todo o comportamento humano segue esse padrão. Dúvida, medo, raiva, reconhecimento (rendição)... Tudo isso porque, na verdade, competimos um com o outro por espaço, reconhecimento, sexo. E achamos que se perder, acabou, pois somos finitos, e só temos uma chance de nos perpetuar.

Então, se algo não é cognoscível, se não o entendemos, se nos escapa... Se é indefinível, então não é humano! E isso é bom. Conceitos além da humana terceira dimensão, não podem ser apreendidos por um cérebro que viva na terceira dimensão. Tente colocar um cubo dentro de uma folha de papel de duas dimensões. Agora tente colocar algo que tenha quatro dimensões dentro de um cubo. Acho que você nem consegue compreender algo que tenha quatro dimensões, não é?

O que chamamos de Deus, tem infinitas dimensões! Dá pra compreendê-lo, defini-lo, reduzi-lo a uma definição humana? Não! Graças a Deus. Senão ele seria humano.

Mas somos a imagem e semelhança de Deus! Isso, porque você tem infinitas dimensões que não pode compreender agora. Uma delas atravessou a rua lá atrás... a outra, é a criança que você foi... que dizer é... ou melhor... vai ser. Ah, esqueça!

E como dito, entender o ser humano é fácil, moleza. Quando ele não quer dividir o conhecimento é simplesmente porque o ego quer manter o controle dos outros. Porque controle é segurança, e quero me sentir seguro num mundo caótico que não compreendo. Quero alguém que me sirva, que me traga água se eu não encontrar. Que me traga comida. Que me dê atenção...

Mas, se você estiver pronto pra servir, ao invés de mandar, como ensinou o Cristo, então terá vencido o seu ego. E isso o levará a dimensões maiores. E é estranho, porque quanto mais entrega da sua individualidade egoística, mais consciência de si mesmo você tem, e mais definido como indivíduo você é. Complexo? Graças a Deus!

Ah... mas o amor é tão simples, então ele deve ser invenção humana!

Simples? Onde está a simplicidade no amor? Defina-o! Porque existe o amor por uma mãe, por um filho, por um irmão, por uma esposa. O amor por um cão, por um gato. Por uma obra de arte, por uma lembrança. E todos eles são terrívelmente diferentes, e espantosamente iguais!

O poeta disse que, como pode causar nos corações humanos amizade, se tão contrário a si mesmo é o mesmo amor? Complexo...

Como posso dar a minha face esquerda, se na direita tomei um tapão?! Complexo...

Como posso considerar alguém diferente de mim?! Complexo...

Como posso gostar de alguém que não gosta de mim?! Complexo...

Parece coisa de outro mundo, de outra dimensão...

Como posso dar crédito a alguém que escreve um monte de asneira?! Complexo...

Como posso ser bom, num mundo que só valoriza o que é mal?! Complexo...

Como posso viver por alguém, se tudo o que se faz é matar e jogar a pá de cal?! Complexo...

É, parece coisa de outra dimensão, não há outra maneira... Complexo.

Como posso ler um poema que procura rimar, se no final de cada estrofe o cara - complexo – me dá?

Complexo... é o que há.

London
Enviado por London em 26/06/2015
Reeditado em 26/06/2015
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