Meus pêsames, Aracaju

Fui ao mercado de Aracaju e ainda não sei se estou sonhando ou se tudo aquilo é verdade. Estou brincando, claro que é verdade e disto eu bem sei. Passando por algumas ruas nas cercanias do mercado, observo os comerciantes se sentindo angustiados, impacientes, mesmo sendo os funcionários de balcão que fazem a faxina. Ao longo de todas as calçadas, o mau cheiro de urina e, em alguns pontos, marcas mais fedidas ainda, provenientes de fezes esmagadas por pneus de automóveis e passos de transeuntes. Foi então que me lembrei de que estamos em época de Forró Caju, esse ajuntamento de gente que entende aquilo ser uma festa. Chegando ao espaço central, me deparo com um caminhão lavando o inlavável, mais urina, cachaça, restos de comida, lixo de toda sorte. Um homem magro e baixo segurava com dificuldade o rolo enorme da mangueira que puxava água do caminhão. Por todo esse ambiente, ainda vi (arghhhhhhhhhhh) filas de banheiros químicos agora nada químicos. Outros tipos de transporte estavam ali juntando aquela tralharia, panfletos, plásticos “decorativos”, caixas de som (barulho), enquanto uma van abria as portas e, ali mesmo, descia para o largo da praça caixas de queijo e manteiga que vieram para a comercialização naquelas barracas. Falo de barracas de feirantes. Aquelas outras que vi espalhadas pelas ruas, eu ainda estou em dúvida sobre se são mais ou menos higiênicas do que os banheiros químicos. Eu não falarei mais do que continuei vendo, pois o estômago não me permite. Digo agora do terror que é tudo aquilo para alguém que viveu a juventude em uma Aracaju limpa, chamada de jardim. Para quem viu as verdadeiras festas, tanto as realizadas em casas de família, a exemplo do baile de debutantes, quanto as animadas e bonitas festas nos nossos clubes: Iate, Associação Atlética, Vasco, Cotinguiba e mais uns clubes simples, mas dignos, aquele lugar feio e fétido não é festa. Nos bailes dos anos 60 apresentavam-se pianistas, orquestras e um grupo musical como serve de exemplo o Los Guaranis. Para quem viu e dançou em ambientes assim, e que realmente foi feliz em espaços iluminados, um salão com mesas (que não eram de plástico e que não ostentavam nomes de cervejas), garçons em seus trajes peculiares, isto da feira nunca foi, não é e jamais será festa. Agora falo da morte do cantor. Falo porque ele, como tantos outros, são produto dessa inversão de sentidos, significados e valores. São produto deste tempo sem nome, sem destino, sem coisa alguma. Os pais que preservam as memórias da vida em tom azul não se acostumam com esses milhares de tons de cinza do que hoje se vê. A cada vez que um filho ou um neto sai para ver um “show” desses, ficamos em casa, tristes, preocupados, angustiados, ansiosos, atormentados e com a sensação de que algo acontece, aconteceu, está acontecendo ou acontecerá. Pais que amam os filhos respiram aliviados e até pagam promessas quando a campainha da casa ou do apartamento toca, ali pelas quatro ou cinco da manhã. Ah, que bom, meu Deus, eles chegaram. Mas, infelizmente, no outro dia e no outro e no outro e em todos os fins de semana, os jovens pegam uma lata de cerveja, uma long neck ou seja lá o que for e partem para essa loucura, esse filme horrendo que é um show em área livre ou em pátios de postos de gasolina, ou ainda, no meio da feira. Ali é a prova de que não é preciso procurar saber o que é o inferno, ali está ele em carne, osso, barulho, álcool e sexo. Mas, eu dizia do cantor morto tragicamente. Observo a reclamação de jornalistas sobre o tanto que deram de cobertura e importância ao rapaz em detrimento de outro, um senhor que partiu para a eternidade nesse dia de São João. Quero agora perguntar se esses jornalistas não sabem que a plateia de um não é a do outro, e que até, tanto um quanto outro não gostariam de ter entre os seus admiradores essa juventude cujo gosto musical se confunde com barulhos de guerra. Sinceros pêsames, Aracaju, extensivos ao Brasil.