Sessão de Cinema
Os cines Pitangui, e o Cetepense já não passam de lembrança doce-amarga dos aficcionados. E que dizer, então daquele cine-teatro que, anterior a eles funcionou no edifício Liliza, desde os tempos do cinema mudo? Virou estampa, relíquia, guardada com todo zelo, emitindo ainda seu imorredor apelo...
Mas o cinema vive na Velha Serrana, resistindo ao televangelismo, à vida mundana, e tanta outra vicissitude que da mente não se espana. Graças a dois baluartes dessa mais aliciante das artes: Bergmann, como inspirador, e um seu admirador irrefreável, Walter Guilherme de Freitas, connaîsseur contumaz de tudo quanto esteve, está, ou estará em cartaz.
Tendo ultrapassado há poucas semanas a marca das mil sessões em sua própria casa, alojada, feliz, no largo da Matriz, o sociólogo reticente
Freitas, filho de um instigante alfaiate GG e de uma acolhedora Dona Seda, tinha mesmo por fado que converter-se num entendedor de tudo que dissesse respeito a tela. Da urdidura dos cativantes filmes que apresenta semanalmente, à possante tv que nô-los permite ver. Desde que o tempo esteja firme, sem ameaças de raios ou trovões. E como quase não chove ultimamente, a pista vai livre, leve e solta, para a platéia, conquanto reduzida, sempre absorta.
E não é só o espetáculo das telas que seduz. É mais ainda o que se diz, nas preliminares e nos estertores de cada sessão. O bibliófilo voraz e veraz nos mimoseia com as mais profundas e profusas noções que percorrem o largo espectro do conhecimento da história, da filosofia, da antropologia, das artes, da modernidade, da literatura, e mais o que o ouvinte-participante se aventura.
Sem contar as guloseimas fartas de Marta, que mostra que a vida não é só de Atenas, nem apenas de Esparta.