Aspirante a psicólogo também precisa se tratar
Aprendi há poucos dias em uma aula de Gestalt-terapia sobre as fases do crescimento psicológico. A primeira fase é a dos clichês, ela conta com vários sinais de contato, como por exemplo um “Oi “ que você diz ao se encontrar com alguém, um bom dia, ou mesmo aquele comentário sobre o tempo que as pessoas fazem as vezes, mesmo sem saber porque. Na segunda fase vem os papéis ou jogos, que é aquela questão de bancar um papel que seria seu eu ideal. São aquelas pessoas que adoram se fazer de intelectuais, ou aquelas meninas que parecem estar sempre interpretando um papel de uma princesa da Disney. E no meio disso tem também as pessoas que incorporam o papel que os pais deram pra seguir, e muitas vezes bancam isso uma vida inteira sem nunca parar pra pensar que aquilo que vive pode nunca ter sido o que de fato quis.
Depois dessas duas fases você pode pensar que a coisa melhora, e pode até melhorar mesmo, mas a terceira fase em si não é lá uma fase muito boa quando você se encontra nela, é a fase do impasse como diz Perls, o criador dessa teoria, mas também podemos chamar de anti-existência ou mesmo de fase do vazio. É a fase que você fica super perdido na vida, tem muita gente que tenta preencher esse vazio com comida, mas acho que não é muito bem o indicado. Aqui vem um medo enorme de permanecer no processo de conscientização e crescimento, e quem não aguenta acaba interrompendo o processo e retrocedendo ás outras fases. Mas quem encara continua o caminho, vai pra fase da morte e aqui a pessoa implode se comprime, o medo da morte aparece e é preciso muita coragem pra encarar ela de frente. A fase da morte é como a última fase de um daqueles jogos de aventura e se você passar zera o jogo, caso contrário acontece o mesmo que quando você agarra por muito tempo em qualquer outra fase: você pode ficar fraco e precisar voltar pra buscar mais vida.
Insistindo um pouco da pra caminhar, e aí vem a fase “explosiva” essa é a fase da pessoa autêntica a última fase de todas, se chegar até aqui e pensar que é o fodão já sabe né? Só quer dizer que voltou lá pra fase dos papéis, quem chega aqui não precisa de se sentir fodão, autenticidade se reconhece de outra forma.
Minha intenção não é ensinar psicologia, mesmo que eu tenha falado incontrolavelmente sobre ela durante o percurso, no entanto acho importante ressaltar que depois de chegar na última fase o processo recomeça, porque a gente é assim né! Ou pelo menos deveríamos ser. A gente evolui mas sempre tem mais lugar pra ir, mais coisa pra explorar.
Expliquei tudo isso, mas agora é que vem o que eu realmente quero falar, é muito estranho quando você está num curso de Psicologia e aprende tantas coisas sobre desenvolvimento de personalidade. É inevitável fazer aquela autoanálise, e o problemático disso não é o ato de se analisar, o problema é que a autoanálise te leva só até um ponto, só te leva pro lugar em que você se encaixa no processo, e hoje relendo o texto da Gestalt-terapia me peguei diante de mim mesmo na terceira fase, esse estranho vazio. Não sei para onde foram todas as coisas, se pra debaixo do tapete ou se pro topo das colinas. De fato eu não sei, e também não sei como eu cheguei aqui, não sei o que estava preenchendo tanto minha consciência que agora se esvaiu, qual era o papel que vim interpretando até chegar aqui ou qual teria sido, antes disso, o meu clichê.
Não sei nada disso, mas eu sei é que eu queria fazer agora como aqueles escritores e citar minha última sessão com meu analista. Porém pelo que me recordo eu não tenho analista algum. Sendo assim só resta eu e a minha consciência de vazio, pois nem o analista eu tenho pra preencher alguma parte desse buraco. Mas sabe do que mais? Eu não sei se vocês perceberam, mas ainda tenho mais duas fazes depois dessa se eu quiser obter algum crescimento, e mais ainda, se eu por acaso desistir vou voltar lá pra trás. E se eu tiver que voltar, eu pelo menos já sei que eu não quero estar na fase do clichê, sei lá não combina, não faz meu tipo fingir que está tudo ótimo. Eu já ando sempre evitando os contatos iniciais com as pessoas, porque se for pra me perguntar se está tudo bem eu quero despejar a resposta sincera, porque do jeito que vai nem responder um “bom dia” com “queria estar morta” eu quero mais.