A culpa é da imprensa

O morador de rua deveria ter uns 14 anos. Estava sentado no meio fio, como também poderia estar em qualquer lugar. Isso não tinha importância alguma. O que importava era a vontade de decifrar o que estava escrito naquele pedaço de jornal amassado que encontrou.

Já esteve na escola. Aprendeu a chamar de Tia a Professora. Mas as ruas eram mais interessantes e nelas havia tios e tias em profusão. Ficou por muito tempo observando e imaginando o que estaria escrito ali. Seria código? Seria o que? Continha apenas duas linhas e elas não permitiam que pudesse imaginar demais. Quando já estava enrolando

o jornal para “pitá-lo” chega seu “mano”. Mais velho, mais experiente e mais letrado.

E fez-se então a leitura:

“Relaxa

e goza”

Curto e seco. Grosso e imoral.

Apenas três palavras. Mas que fizeram a ordem do dia.

Como eram turistas permanentes das ruas, cumpriram no ato.

Se não houver nenhum parto duplo daqui uns meses, pelo menos dois brasileiros nascerão para comprovar que a culpa realmente é da imprensa.