Bicharedo
(Com a licença não autorizada de Chico Buarque)
Tenho um amigo que fala muita bobagem. Na maioria das vezes chega a me superar neste quesito. Quando ele exagera, digo vá pentear macaco, mas não resolve muito, porque ele sempre puxa a sardinha para sua brasa. Se pelo menos ficasse na dele, em seu mundinho de incertezas, pois cada macaco em seu galho é a melhor maneira de viver sem invadir seara alheia.
Tem situações que me capitulo diante da asneira. Aí, solerte leitor, a vaca já foi brejo, mesmo, tiro meu cavalinho da chuva e saio de mansinho a passos de cágado. Não esqueço a ousadia, afinal tenho memória de elefante. Quando ele domina as conversas, então, é a raposa tomando conta do galinheiro e as pessoas ficam mais perdidas como cachorro em dia de mudança ou minhoca no galinheiro.
Ah, mas às vezes consigo prevalecer ou esclarecer esta mente conturbada e nesta hora a onça bebe água e ele fica com a pulga atrás da orelha. Macacos me mordam, minutos depois ele volta com uma camisa de cor de burro quando foge e eu fico novamente como peixe fora d’água e suporto tudo com galhardia. Afinal, quem não tem cão, caça com gato. Este cara não tem jeito. Parece que tem bicho no corpo inteiro.
Num mundo onde as pessoas são animalescas e matam ou morrem como moscas por nada ou muito pouco, sou mais pacífico que o oceano. Tenho uma paciência de jiló. Evito levar uma vida de cão, rosnando para todo mundo e comendo comida de passarinho. Aceito de bom grado a diversidade de pensamentos, o contrário e até mesmo a mais completa idiotice ou bizarrice. No entanto, quando recebo um elogio, não me interessa de quem partiu, gosto porque cavalo dado não se olha o dente. Mesmo assim, fiquei surpreso com a última observação deste amigo insano. Algo está muito errado. Aqui tem truta. Fiquei puto da vida com ele e agora o bicho vai pegar. RRRRAAAUUU...