AMOR PODE NÃO SER AMAR
Prof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
Gramaticalmente, amor é um substantivo abstrato, como o é justiça, paz, verdade, democracia. Substantivo abstrato designa uma ação, qualidade ou estado considerados separados dos seres ou objetos a que correspondem. Assim, nenhum desses substantivos abstratos existe na realidade, concretamente. O que existe são manifestações de justiça, paz, verdade, democracia. Palavras plenas e vazias, ao mesmo tempo. Nada mais que palavras. É fácil usar termos abstratos, desvinculados da realidade. Palavras como justiça e democracia são usadas a esmo, a torto e a direito, pela direita e pela esquerda. Falar a esmo, superficialmente, é do feitio de muita gente, sobretudo de políticos.
Quanto a amar, está no modo infinitivo, valendo assim, de um modo geral, para todo mundo. E mais: o infinitivo dá nome ao verbo. É o nome do verbo. E se o substantivo designa o ser, o verbo designa ser, agir, fazer, produzir. O verbo é, por natureza, mais dinâmico que o substantivo. “Dia após dia / Começo a encontrar / Mais de mil maneiras / De amar”, canta Baby Consuelo.
O amor é o mais valioso tesouro de todos os bens, mas conservado dentro de um vaso frágil, usando uma expressão de S. Paulo. Esse vaso, pois, nem sempre resiste a mudanças de lugar, de tempo e de circunstâncias. Quanto mais consistente o material de que é feito o vaso, mais difícil de quebrar. Na prática, existem infinitas possibilidades de manifestar amor.
E Deus, não é Amor? Diferente. Em Deus a essência se identifica com a existência, conforme doutrina de Tomás de Aquino. Essa uma das características divinas. Portanto, n’Ele, amor (essência) se identifica com amar (existência). Por isso é que é Deus, ser necessário. Nós outros, contingentes, somos esse paradoxo ambulante: pregar uma coisa, defender certas ideias, mas viver mesmo... Aqui está a questão: faça o que eu digo (amor), não o que eu faço (desamor). Pregar o amor e viver o desamor. Político então!...