O homem dos cinco alqueires

Meus sogro tinha uma propriedade no interior do estado, um sítio com 42 alqueires.

Ele contava que quando adquiriu a propriedade na década de 70, a principio tinha apenas 37 alqueires, sendo que alguns anos depois adquiriu mais 5 alqueires nos fundos da propriedade.

E era assim que se referiam à este pedaço de terra “cinco alqueires”. Era a roça dos cinco alqueires, o gado lá dos cinco alqueires, o homem dos cinco alqueires... péra aí, eu ainda não falei do homem dos cinco alqueires?

Então, vamos a parte boa desta história!

A primeira vez que o homem dos cinco alqueires deu “o ar da graça”, foi quando meu sogro estava formando a segunda plantação de café. Bem, a estrutura do sítio era mais ou menos assim: logo na entrada ficava a casa, em seguida uma área de pasto, com a represa, depois havia a plantação de cacau, que formava um pequeno bosque, a primeira plantação de café, que já estava produzindo, outra área de pasto, um brejo e a segunda plantação de café, que ficava logo no início dos cinco alqueires... mais ou menos assim...

Foi minha sogra quem contou esta história, estavam meu sogro e os três filhos mais velhos trabalhando na formação da roça de café quando ele e os meninos ouviram gritando: Ohuuuu Luiiizzz! Ohuuuu Luiiizzz!

No sítio é comum se comunicar com gritos e cada um tem seu estilo próprio de gritar.

E aquele grito foi exatamente igual ao da minha sogra.

Meu sogro respondeu e devido a distância, não conseguia compreender bem o que ela dizia... “num sei o que, num sei o que, num sei o que, num sei o que, Genésio”... Genésio era um dos irmãos de meu sogro, então ele concluiu que o irmão havia chegado e a mulher veio chamá-lo.

Gritou de volta respondendo que já estava a caminho. Terminou o eito, avisou os meninos e seguiu de volta para casa. Era uma caminhada de mais de dois quilômetros... achou estranho não encontrar a esposa, pensou que ela esperaria por ele..chegou em casa. Achou tudo muito quieto... foi entrando pela porta dos fundos da cozinha e a esposa já estava vindo ao seu encontro.

Maria, porque não me esperou? Cadê o Genésio?

O quê? De que está falando? O Genésio não está aqui!

Como? Você foi lá na roça me chamar porque o Genésio estava aqui!

E minha sogra explicou que não saíra de casa.

Os dois sentiram um arrepio percorrendo o corpo e ficaram sem entender o que havia acontecido.

O episódio acabou caindo no esquecimento...

Porém, nesta mesma semana, o pai e os três filhos mais velhos foram para roça. Desta vez, foram para a plantação de arroz nos cinco alqueires, era época de colheita. O filho mais novo ficou em casa para levar o almoço para os outros, a caminhada era longa...

O pai não ficou muito tempo na roça, pois, tinha que olhar uma vaca parida em outro pasto.

Aconteceu que por volta das 10 horas os rapazes, ansiosos pela chegada do almoço, estavam atentos aos movimentos quando de repente, ouviram os gritos... “ aiaiai! .... aiaiai! ... aiaiai! ...”

O mais velho se aproximou do irmão e disse “você ouviu isso?” os dois se olharam sem dizer nada... ouvidos atentos... “aiaiai! .... aiaiai! ... aiaiai! ...” de novo!

Meu Deus! Falou um dos irmãos, a onça pegou o Sid! Os três, armados com o cutelo, correram em disparada em direção dos gritos. E quando pareciam estar chegando, o grito surgia mais longe... “ aiaiai! .... aiaiai! ... aiaiai! ...” correram, correram e o grito sempre mais longe... a onça está arrastando ele! E corriam e nada. Até que os gritos cessaram.

Os irmãos, desesperados, resolveram voltar para casa afim de dar a triste notícia aos pais... caminharam cabisbaixo sem conversarem entre si... até esqueceram a fome... quando estavam próximo de casa pararam. Quem vai contar? Silêncio. Quem vai contar? Pergunta de novo um dos irmãos. A gente conta junto, decidiram. E chegaram em casa. A mãe – minha sogra – estava na cozinha terminando de preparar as marmitas... se assustou com a chegada dos meninos. Eita! Que fome é essa que nem esperaram o Sid levar o almoço! O Sid tá aí? Perguntaram os três juntos.

Claro! Respondeu a mãe. Agora que terminei de aprontar as marmitas!

Ma-ma-mais... gaguejou um dos filhos... os gritos... a onça... nós corremos para ajudar...

Do que vocês estão falando? Perguntou o pai que chegava do pasto...

Nós ouvimos os gritos, pai, era o Sid... a onça pegou ele e nós corremos atrás, mas perdemos ele...

Que onça, meninos! Vocês estão loucos? O Sid nem saiu de casa!

Eles contaram em detalhes o que aconteceu e houve um misto de medo e suspense no ar...

Foi quando Sid, que até então estava quieto em um canto, tentando entender tudo aquilo, falou “será que foi o homem dos cinco alqueires, pai? Igual naquele dia?”

Todos ficam em silencio por um instante, até que meu sogro se levantou e falou “ah! Deixa de disso e vamos almoçar!” Mas, em seu íntimo ficou intrigado com o relato dos filhos, se lembrando do que aconteceu com ele próprio... homem dos cinco alqueire... será?

Continua...